Você precisa defender a restinga

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Esta semana tive uma reunião no escritório, a respeito de um projeto à beira-mar, quando os clientes questionaram com curiosidade: “qual é a importância dessa vegetação em frente à nossa casa?”. Essa vegetação seria a Restinga, um ecossistema costeiro que faz parte da Mata Atlântica e desempenha importantes Serviços Ecossistêmicos.

Quando criamos um projeto de paisagismo, além das camadas estética e funcional, precisamos considerar a ecológica. Um projeto pode ser muito verde, mas se a escala ecológica não for considerada, dificilmente ele poderá se dizer sustentável. A sustentabilidade deve ir além da economia de recursos e da abundância de vegetação nas áreas construídas, e através dos Serviços Ecossistêmicos podemos impactar positivamente o ambiente onde um projeto se insere.

Podemos categorizar os Serviços Ecossistêmicos – SE em quatro grupos. Começo pelos de Regulação, os quais trazem benefícios como o sequestro de carbono, a regulação térmica, a qualidade do ar e da água, a prevenção de erosão e até mesmo o controle de doenças e pragas que podem ser catalisados nos ecossistemas come estratégias de projeto, seja através da implantação de vegetação específica ou outras estratégias. A segunda categoria que abordo são os de Suporte, com a formação e estabilização dos solos, a realização de fotossíntese e a polinização que promove a diversificação de culturas e a ciclagem de nutrientes no solo. Os outros dois serviços são o de Provisão, que garante o fornecimento de alimento, medicamentos e outros recursos naturais extraídos para benefício humano, e o Cultural, no qual a sociedade extrai benefícios estéticos, recreativos, turísticos, educativos, entre outros.

Um projeto de paisagismo verdadeiramente sustentável precisa pensar em todos esses pontos, e implantar vegetação e equipamento de modo a contemplar o máximo de Serviços Ecossistêmicos, priorizando aqueles que são mais importantes para o local. Implantar vegetação com intenção vai muito além da estética.

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Agora, voltando à pergunta dos meus clientes: qual é a importância da Restinga? Esse ecossistema delicado desempenha importantes SE de Regulação, sendo uma barreira natural contra a erosão costeira e o avanço das marés, evitando inundações. O seu sistema radicular facilita a filtragem e infiltração da água no solo, estabilizando-o e purificando os reservatórios subterrâneos. Essa vegetação também faz sequestro de carbono azul, aquele que é absorvido por ecossistemas costeiros. Em relação aos SE de Suporte, a restinga é lar de várias espécies endêmicas do território, sendo abrigo para aves, répteis e pequenos mamíferos, além de ser o local ideal para sua reprodução. Suas diversas espécies atraem polinizadores, que nelas encontram alimento e dispersam sementes que perpetuam o ecossistema, além de ajudar na ciclagem de nutrientes no solo arenoso. A Restinga tem potenciais SE de Provisão, com plantas medicinais, além de frutíferas comestíveis, que já fazem parte da dieta de outros animais.

Separo um parágrafo especialmente para os Serviços Ecossistêmicos Culturais. A paisagem das Restingas faz parte do imaginário que temos das nossas praias, tendo valor turístico e estético. São ambientes únicos, portanto, protegidos pela União como um importante Patrimônio Cultural. Mas ainda, é necessário ver a Restinga como um vetor de Educação Ambiental: esses ecossistemas, tão estudados e valorizados pelo meio científico, ainda são desrespeitados pela população, que os deixa poluídos, que estaciona sobre as margens das áreas protegidas e não conhece o valor que ela tem. Por isso, especialmente durante os períodos de veraneio, te convido a ajudar a disseminar a importância desse ecossistema, ajudando a preservar e dando a ele seu devido valor.

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Bruna Lago
Bruna Lago é Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), formada com Láurea Acadêmica. Especialista em Arquitetura da Paisagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais