Vai desapegar? Cuidado com os golpistas da web

Até na hora de vender um produto usado, é preciso estar atento

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Taxação de e-commerce internacional estava prevista para começar no dia 1º de agosto — Foto: Fábio Rossi/Agência O Globo
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Do eletrodoméstico ao violão que não é mais usado, boa parte dos brasileiros já desapegou de algum pertence. Muitas vezes realizada no boca a boca, a venda de itens de segunda mão se tornou frequente no mundo digital, com a proliferação de plataformas nas quais os internautas podem anunciar os produtos e negociar diretamente com os interessados até em tempo real. Mas nem na hora de desapegar as pessoas estão a salvo. É comum os usuários desses sites serem alvos golpes de engenharia social.

Nessa modalidade de fraude, os criminosos conseguem obter vantagens sobre os anunciantes, seja monetária ou pela apropriação do item anunciado, sem pagar.

Os golpes mais comuns envolvem a tentativa de obter o produto com um falso comprovante de pagamento. Nesses casos, o criminoso comunica que está interessado na mercadoria e que vai efetuar a compra. O bandido, no entanto, alega que o sistema de pagamento da plataforma está exigindo o e-mail e o telefone do vendedor, para verificação. Com esses dados, o golpista falsifica um comprovante de pagamento do site para o vendedor e o envia por correio eletrônico.

O golpista chega a usar logo e endereço de e-mail parecido com da plataforma na qual a venda está sendo feita. Dessa forma, ele induz o vendedor a acreditar que o valor foi depositado e que será liberado após a entrega do produto . Em muitos casos, após essa etapa, o criminoso envie um motorista para o resgate do produto.

Há outras situações em que o bandido se passa por um intermediário, alegando que um “amigo” ou “terceiro” vai buscar o item, sem que o pagamento tenha sido realmente efetivado.

De acordo com Mozar Carvalho, sócio fundador do escritório Machado de Carvalho Advocacia, é preciso ficar atento aos sinais de irregularidade. Um exemplo disso são compradores que demonstram uma urgência incomum para concluir a transação, oferecendo preços até acima dos cobrados pelos vendedores, sem muita negociação:

— Além disso, os criminosos costumam realizar pedidos para alterar a forma de pagamento após o acordo inicial. Eles geralmente evitam contato telefônico ou pessoal, preferindo mensagens de texto.

Em posse de informações como nome, telefone e até endereço, os golpistas podem, também, ameaçar e chantagear pessoas que queriam um dinheiro extra com a venda de algo que não usam mais.

Números lançam alerta para cuidados

Beatriz Soares, vice-presidente de Produtos da OLX. maior plataforma de marketplace do país, revela que, em 2023, os brasileiros perderam aproximadamente R$ 1,1 bilhão em golpes digitais — um aumento de 12% em relação a 2022. Os números são de uma pesquisa realizada com base em cerca de 20 milhões de contas abertas em sites e aplicativos desse nicho.

O Estado do Rio de Janeiro é o segundo maior em incidência de golpes (11%), atrás apenas de São Paulo (45%).

Carros, vans e utilitários estão no topo da lista dos produtos mais visados pelos golpistas, representando 25%. Celulares e smartphones estão em segundo lugar, com 22%.

Em terceiro lugar estão os videogames, com 13%.

— Os golpes mais comuns identificados em 2023 foram de falso pagamento (30,5%), invasão de conta (25,6%) e coleta de dados (17,8%).

Somente em 2023, os brasileiros sofreram mais de 91 mil golpes na compra e venda de veículos on-line, conforme dados do estudo de mercado realizado pela OLX.

O advogado criminalista Thiago Jordace orienta que, após ser vítima de um golpe on-line, as pessoas devem documentar toda a transação fraudulenta e registrar a ocorrência de forma digital, enviando os documentos à polícia:

— Para evitar esses casos, é preciso investir em credibilidade na transação e estrutura de atendimento — diz Beatriz.

Veja como escapar dos golpes

Como medida de segurança, o professor Gustavo Kloh, advogado de defesa do consumidor e professor de Direito da FGV Rio, recomenda: é importante não realizar transações fora dos marketplaces. Os golpistas, diz ele, se aproveitam do desejo de economizar para induzir os vendedores a caírem no golpe:

— Muitos levam o anunciante a fechar o negócio fora da plataforma devido à comissão que esses sites cobram. Esse é quase um pensamento antissistema, mas, na verdade, é o sistema das plataformas que traz a segurança a essas negociações.

Além disso, é aconselhável utilizar plataformas de pagamento seguras e reconhecidas, que ofereçam proteção ao vendedor, como retenção do pagamento até a confirmação da entrega, além de verificar sempre a identidade do comprador e, se possível, realizar a transação em conta específica para venda on-line, separada da conta pessoal, diz Kloh.

— É importante checar o perfil do comprador no marketplace, observando o histórico de compras e avaliações de outros vendedores. Realizar uma pesquisa rápida sobre o comprador na internet e solicitar um contato por telefone ou videoconferência para discutir os detalhes da transação também são práticas recomendadas.

Criminosos clonam WhatsApp

A Kaspersky, empresa especializada na produção de softwares de segurança para a internet, identificou um esquema criminoso simples, mas que pode causar muita dor de cabeça. Os criminosos monitoram as plataformas de venda, como os “sites de desapego”, para identificar usuários que criaram anúncios. Com as informações sobre essas ofertas, um deles envia uma mensagem, passando-se pela plataforma de vendas, dizendo: “verificamos um anúncio recém-postado e gostaríamos de atualizá-lo para que continue disponível para visualização” ou “devido ao grande número de reclamações referentes ao seu número de contato, estamos verificando”. As mensagens terminam pedindo para que a vítima informe o código que receberá via SMS para resolver a questão.

— Quando a vítima responde à mensagem, o fraudador inicia o processo de ativação do WhatsApp em um novo celular, pois o suposto código de verificação é, na verdade, o código para ativar a conta. Se a pessoa não prestar atenção, acaba fornecendo o número e tem seu aplicativo roubado em minutos — diz Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky Lab Brasil.

A partir desse momento, o golpista se passa pela vítima para pedir dinheiro a parentes e amigos próximos.

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