As vendas do varejo de bens e serviços em Porto Alegre tombaram 16,8% na quinta semana das enchentes históricas que trouxe um grande impacto ao Rio Grande do Sul, entre os dias 27 de maio e 2 de junho, frente a igual semana de 2023, mostram dados preliminares do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA).
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Segundo Carlos Alves, vice-presidente de Tecnologia e Negócios da Cielo, houve queda em todos os setores em Porto Alegre, desde postos de combustíveis, supermercados e farmácias a vestuário e alimentação.
A tragédia climática no Rio Grande do Sul parou a economia do estado desde fins de abril e deixará um rastro de destruição de capacidade produtiva, pesando negativamente sobre a economia nacional.
Na terça-feira, o IBGE divulgou os dados do PIB do primeiro trimestre, ainda sem efeito das enchentes, mas a paralisação da economia gaúcha deverá afetar as perspectivas de crescimento para o ano.
Projeções iniciais, de estudos divulgados ainda em maio, apontam para um efeito negativo entre 0,2 e 0,3 ponto percentual na variação agregada do PIB neste ano.
Replicando a metodologia de um estudo do Departamento do Comércio dos EUA, de 2006, que avaliou os impactos que o rastro de destruição deixado pelo furacão Katrina na economia americana em 2005, a equipe de economistas da gestora G5 Partners estima que a economia brasileira poderá crescer 0,3 ponto percentual a menos neste ano.
Outro estudo, do banco Bradesco, corrobora que o PIB poderá crescer de 0,2 a 0,3 ponto percentual a menos deste ano, por causa das enchentes no Rio Grande do Sul. “Ainda sem muita informação e de difícil mensuração, temos também que levar em conta os danos sobre as estruturas físicas. Os setores com maior potencial de perdas nesse sentido são o agropecuário, indústria e transportes”, diz um trecho do relatório do Bradesco.
O Rio Grande do Sul pesa 6,5% na economia nacional, segundo o IBGE. Conforme Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do órgão, metade do PIB gaúcho está em cidades que tiveram a situação classificada como calamidade pública, mas é melhor aguardar os primeiros dados de maio para analisar os impactos.
Parte do efeito negativo deverá ser transitório, diante da injeção de recursos federais para a recuperação. Os impactos também deverão variar conforme os setores da economia.
— A indústria tende a ter efeitos negativos mais duradouros, já que o capital fixo demora mais a ser recuperado. Por outro lado, setores ligados a serviços devem se recuperar mais rápido — disse Gabriel Couto, economista do .
A fabricante de calçados Usaflex deu férias coletivas por 15 dias para seus 3,2 mil empregados nas quatro fábricas nas cidades de Parobé, Igrejinha, Campo Bom e Dois Irmãos, afetadas pelas enchentes. Porém, segundo Sergio Bocayuva, CEO da companhia, as atividades já voltaram ao normal:
— A capacidade de produção é de cerca de 32 mil pares por dia nos municípios gaúchos, então a empresa deixou de produzir quase 500 mil pares, basicamente. Mas isso acabou sendo compensado com o faturamento que tivemos no Dia das Mães, que teve toda a sua entrega feita em abril. Então, o que a gente fez foi fazer uma comunicação ao mercado, dizendo que os novos pedidos teriam um atraso de mais uns 15 dias, aproximadamente – explicou.
De acordo com Bocayuva, entre os franqueados da região Sul, que representa 5% do faturamento da companhia, não houve perdas, mas alguns clientes de multimarca tiveram prejuízo.
— Então, para esses clientes, principalmente, a gente vem fazendo um trabalho de apoio financeiro, postergando o pagamento e os vencimentos. Com relação aos fornecedores, os de curtume, que é o couro, foram afetados, mas temos um estoque de seis a oito meses. Então, a gente não teve nenhum impacto fabril — completou o executivo.
Os dados do ICVA mostram que já há alguma retomada. O índice acompanha o comércio e os serviços com base nos dados das maquininhas de cartões. Para analisar os efeitos da tragédia climática no Rio Grande do Sul na economia, os pesquisadores da Cielo desagregaram os dados em três áreas geográficas: a capital gaúcha, o estado como um todo e as 30 cidades mais afetadas pelas enchentes, conforme um estudo da UFRGS.
Considerando o Rio Grande do Sul como um todo, e não apenas a capital, as vendas tombaram 15,7% na segunda semana de enchentes, ante igual período de 2023, mas, na semana terminada no último dia 2, a queda foi de 0,6%.
— A reconstrução pode não compensar totalmente, mas vai melhorar a produção e, dessa forma, recompor um pouco o crescimento — prevê Claudio Considera, coordenador de contas nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).