Cálculos feitos por agência mostrou que quatro em cada dez toneladas da embarcação vinda da China poderia sofrer imposição das tarifas de 145%.
Em 24 de abril, tendo como pano de fundo guindastes imponentes, estivadores do Porto de Long Beach começaram a descarregar o OOCL Violet, um imenso navio cargueiro transportando milhares de contêineres com mercadorias destinadas aos Estados Unidos. O Violet é um dos primeiros navios a enfrentar uma nova realidade dura: uma tarifa de 145% sobre quase metade de sua carga chinesa, imposta pela guerra comercial em andamento do presidente com a União Europeia. O navio já havia começado a carregar produtos destinados aos Estados Unidos antes do anúncio tarifário feito por Trump em 2 de abril. Quando chegou à Califórnia, trazia uma carga com valor estimado em pelo menos US$ 564 milhões (aproximadamente R$ 3,23 bilhões), de acordo com dados detalhados de conhecimento de embarque da IHS Markit.
Segundo estimativas da agência Bloomberg, cerca de 40% das mercadorias estavam provavelmente sujeitas à nova tarifa de 145%. Os dados sugerem que as empresas importadoras terão que arcar com pelo menos US$ 417 milhões (ou R$ 2,39 bilhões) em novas tarifas — isso sem contar as taxas de importação já existentes. “Está definitivamente afetando os negócios. Não sabemos se isso é permanente ou temporário… então estamos todos meio no escuro, por assim dizer, buscando outras opções”, disse Tino Muratore, gerente geral da Worldlawn Power Equipment, em Beatrice, Nebraska, que tinha cortadores de grama e peças no navio. A carga a bordo do Violet representa um microcosmo de bens de consumo e suprimentos industriais: peixes, tênis, empilhadeiras, luvas médicas de látex, para-brisas de carros, macarrão, cadeiras de rodas e sutiãs.
Calcular tarifas envolve um conjunto complexo de fatores, incluindo o tipo de produto importado, o local de origem e — no caso de mercadorias embarcadas na semana seguinte ao anúncio de Trump — a data em que o navio deixou cada porto antes de chegar aos EUA. O Violet começou a carregar mercadorias em Dalian, na China, um importante porto ao norte do Mar Amarelo. Naquele momento, a maioria dos produtos chineses enfrentava uma tarifa adicional de 20% dos EUA, inicialmente relacionada à preocupação de Trump com o papel da China na crise do fentanil. Poucos dias depois, ao sair de Ningbo, na China, a nova tarifa máxima já havia subido para 45% para carros e alguns produtos de alumínio e aço.
O maior golpe para os clientes do navio Violet veio horas antes de a embarcação deixar Xangai, quando entrou em vigor um novo aumento tarifário, elevando as taxas sobre produtos chineses para impressionantes 145%. Esse aumento de última hora provavelmente adicionou US$ 220 milhões (ou R$ 1,26 bilhão) aos custos de importação das empresas americanas com carga a bordo. Muitas empresas com carga no Violet — incluindo a Worldlawn Power Equipment — tiveram pouco tempo para reagir aos aumentos repentinos: “Tínhamos algumas coisas já no mar, em andamento. Então, sim, estamos tentando descobrir como navegar por isso como todo mundo”, disse Muratore.
A agência Bloomberg estimou o custo das novas tarifas da Casa Branca para a carga do Violet consultando especialistas em logística internacional, além de ordens executivas recentes e diretrizes da Alfândega americana. As taxas reais pagas podem variar dessas estimativas, dependendo das informações que os importadores forneceram aos oficiais aduaneiros. Importadores que armazenam mercadorias no Porto de Long Beach, na Califórnia, podem enfrentar tarifas diferentes se as taxas mudarem antes da liberação da carga.
Uma análise mais detalhada da carga chinesa do Violet destaca o impacto abrangente da guerra comercial de Trump com a segunda maior economia do mundo: A curto prazo, as novas tarifas devem gerar bilhões de dólares em receita imediata para o Tesouro dos EUA — um custo que recai sobre os importadores americanos, que podem optar por repassar isso aos consumidores. Esse ganho, no entanto, pode ser temporário. O número de navios cargueiros indo da China para os EUA despencou nas últimas semanas.
Um porta-voz da Casa Branca disse que as políticas da administração Trump estão “lançando as bases para uma restauração de longo prazo”, citando o aumento do investimento bruto doméstico e dados de março que indicam queda da inflação. O porta-voz não comentou as constatações da Bloomberg sobre os custos para os importadores e o impacto das novas tarifas, incluindo a de 145% sobre produtos chineses, que entrou em vigor em 10 de abril.
Refletindo essa tendência, o Porto de Long Beach projeta uma redução de cerca de 40% tanto nas escalas de navios quanto no volume de importações entre meados de abril e meados de maio, segundo previsões publicadas pelo porto. Isso reflete o atraso típico antes que mudanças na cadeia de suprimentos impactem a economia global. A China divulgará na sexta-feira os dados de comércio exterior de abril, que trarão a primeira visão abrangente de como as exportações chinesas mudaram e como os importadores dos EUA reagiram ao salto nas tarifas.
Para empresas como a Arctic Fisheries, lidar com as novas tarifas é o mais recente desafio após anos de turbulência. O presidente da empresa disse esperar que precisará contrair empréstimos — com juros — para pagar a fatura tarifária de sua carga de peixes no Violet, embora ainda não tenha recebido a cobrança. Isso se soma a uma série de interrupções desde 2018, incluindo tarifas da primeira gestão Trump, caos logístico durante a pandemia e problemas de fornecimento devido à guerra entre Rússia e Ucrânia. Embora Kotok tenha dito que pretende repassar os custos das tarifas aos clientes, contratos de preço fixo em vigor limitam sua capacidade de fazê-lo. “Na tentativa do governo de apertar outros países, acabaram apertando os próprios negócios americanos. Muitos dos quais não vão sobreviver”, afirmou.
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