Após três tentativas, ‘Rodovia da Morte’, em Minas, é leiloada; previsão de investimentos é de R$ 5,5 bilhões

Certame aconteceu na B3 e teve disputa entre dois grupos

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Depois de três tentativas frustradas, a gestora 4UM venceu a disputa para operar a BR-381, em , conhecida como Rodovia da Morte pelo alto índice de acidentes. A rodovia que liga Belo Horizonte a Governador Valadares é conhecida pelios seus trechos sinuosos e alto índice de acidentes. A gestora apresentou o maior desconto sobre a tarifa de pedágio: 0,94%. A 4UM disputou a rodovia com a gestora do Oportunity, que ofereceu desconto de 0,10%.

A 4UM Investimentos tem sede em Curitiba e soma mais de R$ 7 bilhões sob gestão. Com a vitória, entrou no segmento de infraestrutura. Especializada em investimentos de longo prazo, a 4UM concluiu no mês de agosto a estruturação de um fundo de investimento em participações para atuar nos próximos leilões de rodovias, começando com a BR-381. Entre os cotistas desse fundo, estão as famílias Malucelli, Salazar, Federmann e Backheuser, acionistas das empresas MLC, Aterpa, Senpar e Carioca Engenharia.

Leonardo Boguszewski, CEO da 4Um, agradeceu o apoio dos investidores no fundo de investimento que fez o lance pela BR-381 e disse que o comprmisso é trabakhar para que a rodovia passe a ser chamada de ‘Rodovia da Vida’.

— Vamos trabalhar para que isso se concretize aos longos dos próximos anos

Estiveram presentes no leilão, o ministro dos Transportes, Renan Filho; das Minas e Energia, Alexandre Silveira, além do governador de Minas Gerais, Romeu Zema.

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) fez pelo menos três tentativas anteriores de leiloar a BR-381 aconteceram em 2021, 2022 e 2023, com diferentes modelagens, mas não apareceram interessados. Segundo especialistas, trata-se de um projeto complexo, que oferecia muitos riscos ao operador privado.

Mudanças no edital

O advogado Eduardo Schiefler, do Schiefler Advocacia especialista em Direito Administrativo, diz que houve interesse desta vez com as mudanças feitas pelo governo no edital. O aspecto mais relevante foi a adequação dos riscos a serem assumidos pela futura concessionária ao retorno previsto. A Taxa Interna de Retorno do projeto também passou de 9,88% para 11,97%.

— No atual projeto, a duplicação do trecho entre Belo Horizonte e Caeté vai ficar a cargo do poder concedente. Esse trecho tem elevado risco geológico e problemas relacionados à desapropriação de famílias que vivem às margens da rodovia, o que vinha afastado potenciais interessados porque o retorno previsto não era compatível — explica Schiefler.

O especialista afirma que o governo compreendeu que projetos de infraestrutura são, para os agentes privados, projetos de investimento, e quando o retorno previsto não compensa os riscos assumidos, os investidores vão buscar outros investimentos mais seguros, inclusive outras concessões.

A duplicação e concessão neste trecho rodovia é uma novela antiga, diz o advogado. Ele lembra que em 2013 houve o loteamento de trechos da rodovia para a duplicação com recursos próprios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sem que houvesse concorrentes.

Em 2021 e 2022 o governo federal tentou fazer a concessão de um grande pacote com a BR-381/MG e a BR-262/MG-ES, também sem conseguir atrair investidores em razão dos riscos elevados nas duas rodovias e o expressivo volume de investimentos exigido. Em 2023 houve nova tentativa, desta fez apenas da BR-381/MG, também frustrada por falta de interessados.

A concessão de rodovias é um processo complexo que envolve diversos fatores, especialmente em rodovias consideradas complicadas ou perigosas, como a Rodovia BR-381, explica Marco Botter, CEO da Telar Engenharia .

— São muito aspectos como manutenção da rodovia e sua geometria, já que curvas acentuadas, aclives e declives podem aumentar o risco de acidentes. A composição do tráfego (caminhões, carros de passeio, veículos pesados) também pode afetar a segurança e o desgaste da pista. E além de considerar a viabilidade econõmica, através da cobrança dos pedágios, é preciso avaliar como a concessão afetará o meio ambiente — explica.

A BR-381 é importante porque liga São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Trata-se de um corredor de escoamento da produção agrícola e de minérios para exportação e de transporte de mercadorias que entram pelo litoral capixaba.

O trecho que está sendo leiloado faz a ligação entre a Região Metropolitana de Belo Horizonte e a Região Metropolitana do Vale do Aço, chegando até Governador Valadares.

Cinco praças de pedágio

Com um traçado sinuoso (e perigoso) e tráfego intenso de veículos pesados, a Rodovia da Morte tem a duplicação prometida desde a década de 1990. Com a concessão, a rodovia deverá receber investimentos de R$ 5,5 bilhões para melhorias, além de R$ 3,7 bilhões para despesas operacionais.

Entre as melhorias, estão previstos 106 quilômetros de duplicação, 83 quilômetros de faixas adicionais, 51 correções de traçado, além de áreas de escape, pontos de parada e descanso para caminhoneiros e 23 passarelas para a travessia de pedestres.

Para percorrer todo o trecho concedido, o motorista terá que desembolar no total R$ 60,45, segundo preços de pedágio definidos pelo edital. São cinco praças de cobrança na cidades de Caeté, João Monlevade, Jaguaraçu, Belo Oriente e Governador Valadares. A concessão tem prazo de 30 anos e as obras devem gerar 80 mil empregos.

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