Risco de apagão na construção civil

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Nos últimos anos, João Pessoa experimentou um crescimento expressivo no mercado imobiliário, impulsionado pela alta demanda por imóveis residenciais e compactos voltados para a rentabilização com o turismo. A capital paraibana se tornou um dos destinos mais atraentes do Nordeste, com seus custos competitivos e qualidade de vida elevada. No entanto, esse avanço enfrenta um obstáculo significativo: a escassez de mão de obra qualificada no setor da construção civil.

A construção civil é um dos pilares da economia local, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Acontece que, em razão das frequentes reuniões das quais participo com empresários do mercado de incorporação imobiliária, uma grita toma conta de boa parte das conversas e diz respeito justamente às crescentes dificuldades vivenciadas pelo setor no sentido de contratar profissionais capacitados em áreas como alvenaria, carpintaria, pintura e eletricidade. Essa carência, além de poder ter impactos diretos na qualidade das obras, nos prazos de entrega e nos custos das construtoras, retrata uma urgência em relação à condução da educação profissionalizante na Paraíba. Também chama atenção o fato do polo turístico do Cabo Branco poder sofrer atraso no início das inaugurações dos equipamentos hoteleiros em razão dessa mesma dificuldade.

Múltiplos fatores para a escassez de mão de obra qualificada são elencados pelos ativistas do setor. Existem os programas de formação profissional promovidos por instituições como o SENAI, mas a procura pelos cursos técnicos não acompanha o ritmo da demanda. Outro fator foi a migração de trabalhadores qualificados para outras regiões do Brasil, atraídos por ofertas mais vantajosas em estados como São Paulo e Minas Gerais. É verdade que hoje essa realidade não se evidencia na mesma intensidade, até porque João Pessoa se tornou um canteiro de obras públicas e privadas. Muitos trabalhadores, contudo, preferem atuar sem vínculo empregatício formal, o que pode desestimular o investimento em capacitação e limitar o acesso a benefícios trabalhistas, agravando ainda mais a situação.

A falta de mão de obra qualificada tem proporcionado atrasos no cronograma de grandes empreendimentos e aumentado os custos operacionais. Há relatos de construtoras no sentido de terem que contratar profissionais de estados vizinhos, assim como do interior paraibano, o que encarece ainda mais os projetos. Para mitigar esse cenário, se torna urgente a ampliação de programas de qualificação profissional pelas escolas técnicas, a realização de parcerias público-privadas com essa finalidade e a adoção de uma política de incentivos para que empresas invistam em treinamento interno.

Outro ponto destacado e já em curso em parte das construtoras locais é a necessidade de modernizar as técnicas construtivas, incorporando novas tecnologias que demandem menos mão de obra física e mais automação. Isso pode não apenas compensar a falta de trabalhadores, mas também aumentar a eficiência e a sustentabilidade dos projetos. O futuro do mercado imobiliário de João Pessoa depende de uma solução coordenada e efetiva para vários problemas decorrentes do desenvolvimento, sendo o da baixa qualificação na construção civil um dos principais. Sem uma ação efetivamente enérgica, o setor corre o risco de desacelerar, comprometendo a mola propulsora mais importante para o desenvolvimento econômico e social da capital mais querida do Brasil.

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Glauco Morais
Glauco Morais, Advogado, Turismólogo, Corretor de Imóveis, ex-Secretário de Turismo de João Pessoa, sócio-fundador da Consultoria Imobiliária Plano 83, é um profundo conhecedor do mercado imobiliário, com especial enfoque no estado da Paraíba.