Presidente da Fiesp critica juros alto e afirma que Campos Neto ‘optou por posicionamento político’

Para Josué Gomes, postura do presidente do Banco Central coloca em risco a autonomia da autoridade monetária

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Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp — Foto: Divulgação/Fiesp

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, disse nesta terça que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, teria “posicionamento político”, o que colocaria em xeque a autonomia da autoridade monetária. Segundo Gomes, dois exemplos disso seriam a ida de Campos Neto às urnas em 2022 vestindo a camisa da seleção brasileira, e a homenagem, Tarcisio de Freitas (Republicanos).

— Ele optou pessoalmente por um posicionamento político. Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o “mérito” vai ser todo do Campos Neto — disse Gomes a jornalistas em café da manhã realizado na Fiesp.

Questionado se Lula deveria se eximir de questionar a postura de Campos Neto à frente da autarquia, Gomes minimizou os ataques do presidente. Para o executivo, seria preciso “um José Alencar” para distensionar as relações entre o governo federal e o BC. José Alencar foi vice de Lula em seus dois primeiros mandatos. É também pai de Josué Gomes.

Segundo o presidente da Fiesp, o governo federal precisa de alguém capaz de reprovar publicamente decisões como a do Copom (Comitê de Política Monetária). Sem esse representante, cabe ao presidente Lula assumir esse lugar.

— Tinha alguém que falava com legitimidade sobre o assunto e ele (Lula) não precisava falar. Infelizmente falta hoje no governo alguém que trate desse debate, então ele se sente na obrigação de falar.

Gomes também disse que o fato de a indústria ter avançado pouco nas décadas recentes é consequência da combinação entre câmbio, taxas de juros e impostos elevados sobre o setor. Segundo o executivo, a taxa de juros brasileiras se manteve próxima a 6% nos últimos 25 anos, enquanto outros países adotavam percentuais bem menores.

Além disso, acrescenta, a indústria responderia por aproximadamente 30% do montante arrecadado pelo governo federal em impostos, mesmo representando uma parcela relevante do PIB (aproximadamente 11% — quase duas vezes a cota do agronegócio).

Josué Gomes expressou desaprovação em relação à manutenção da taxa básica de juros em patamar elevado, mesmo diante da queda nos índices de inflação nos últimos meses, o que estaria limitando investimentos na indústria.

— Com essa taxa de juros, é preferível deixar o dinheiro no banco […]. Se você deixar o dinheiro no banco, aplicado em títulos do tesouro, que são os títulos mais seguros de um país, você vai ter um retorno dessa magnitude. A empresa só tem duas fontes de recursos: recursos de terceiros, que, com essa taxa de juros, são proibitivos, e o lucro, mas nosso negócio tem diminuído porque a indústria é altamente tributária. Se a gente não resolver esses dois problemas, a indústria não vai investir e a produtividade vai continuar caindo.