Por que a indústria não decola em João Pessoa?

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João Pessoa (PB) e Teresina (PI) compartilham características que tornam a comparação entre elas relevante. Ambas são capitais nordestinas, com populações semelhantes — João Pessoa com 888.679 habitantes e Teresina com 902.644, segundo estimativas de 2024 — e nenhuma delas possui porto marítimo ativo em seus territórios. Ainda assim, cada uma trilhou caminhos distintos no setor industrial. Essa diferença, mais do que estrutural, revela fatores históricos e decisões de longo prazo que influenciam diretamente o perfil econômico e o potencial de crescimento de cada cidade.

Nos últimos cinco anos, João Pessoa apresentou um desempenho expressivo no mercado de trabalho formal, com crescimento médio anual de 4,69% (Figura 1), impulsionado por uma base econômica fortemente ancorada nos setores com maior estoque de trabalhadores: serviços, comércio e construção civil. Já a indústria teve participação discreta nesse processo, respondendo por apenas 1,10% do saldo total de empregos gerados entre 2020 e 2024 (Figura 2). Em outras palavras, a cada 100 novos postos de trabalho criados na capital paraibana, apenas 1 foi gerado pela indústria. Teresina, por sua vez, mesmo com crescimento geral menor no período (3,21%), apresenta uma base econômica diferente, também observada pelo perfil de seu estoque de trabalhadores, estruturada principalmente em serviços, comércio e indústria. Neste último setor, registrou 7,93% de participação no saldo de empregos, com crescimento médio anual de 2,67% — em contraste com os 0,69% observados em João Pessoa.

A Figura 3 evidencia que João Pessoa teve variações abruptas na participação da indústria no saldo de empregos, com picos positivos em 2020 e 2022, mas queda acentuada em 2023, chegando a resultados negativos. Teresina, embora tenha desacelerado entre 2021 e 2022, retomou o crescimento nos dois anos seguintes, demonstrando maior estabilidade e avanço industrial. Na Figura 4, a diferença se acentua: a participação da indústria no estoque de trabalhadores caiu de 9,17% em 2020 para 7,78% em 2024 em João Pessoa, enquanto Teresina manteve-se acima de 9,25% durante todo o período analisado, consolidando um perfil industrial mais consistente.

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Se João Pessoa já se destaca mesmo com baixa contribuição industrial, quanto mais poderia avançar com um setor produtivo mais ativo e conectado à economia local? Do ponto de vista logístico, a cidade não encontra barreiras significativas. Está a apenas 25,3 km do Porto de Cabedelo, a 117 km do Complexo de Suape (PE) e a 182 km do Porto de Natal (RN). Conta ainda com rodovias duplicadas (BR-101 e BR-230), energia estável, gás natural, ampla cobertura digital e mão de obra qualificada. O que limita sua capacidade de atrair grandes plantas industriais não é a localização, mas sim a estrutura física: os distritos industriais existem, mas carecem de reestruturação e planejamento de médio e longo prazo, o que dificulta a instalação de unidades de maior porte ou que demandem logística integrada. Já Teresina, dispõe de mais espaço e menor pressão imobiliária, favorecendo a expansão do setor.

João Pessoa construiu sua vocação econômica com base no tripé serviços, comércio e construção civil — um modelo que impulsiona o crescimento, mas que pode (e precisa) ser complementado. O setor industrial pode ser fortalecido com ações coordenadas, como a ativação de cadeias produtivas locais — a exemplo de materiais de construção, alimentos processados e manufatura leve. A cidade conta com um ecossistema educacional robusto, mão de obra técnica crescente e instrumentos de incentivo relevantes, como os benefícios fiscais da Sudene e o crédito de longo prazo do FNE, operado pelo Banco do Nordeste.

Mais do que um diagnóstico, este texto é um convite à reflexão estratégica e colaborativa. Dados e experiências de outras cidades podem, e devem, ser utilizados como insumos para ampliar o horizonte de possibilidades de João Pessoa, respeitando, é claro, suas particularidades, vocações e contexto local. A comparação com Teresina é apenas um ponto de partida. Outras cidades também podem servir de referência para refletirmos sobre caminhos possíveis para fortalecer a estrutura produtiva da capital paraibana, sempre com foco no que pode ser construído com inteligência, cooperação e visão de longo prazo.

João Pessoa não precisa competir com grandes polos industriais, mas pode — e deve — construir sua própria trajetória de industrialização. Uma trajetória inteligente, planejada e conectada às suas vocações locais. O futuro da cidade pode ser ainda mais promissor se a indústria fizer parte dessa agenda.

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Amadeu Fonseca
Amadeu Fonseca, natural de João Pessoa/PB, é um economista com vasta experiência em projetos, finanças, investimentos e educação financeira. Formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), possui MBAs em Mercado Financeiro e Investimentos e Perícia Contábil, além de mestrado em Economia de Energias Renováveis pela UFPB. Atualmente, é Coordenador Administrativo e Financeiro do Programa de Mobilidade e Desenvolvimento Urbano, Integrado e Sustentável - João Pessoa/PB. Amadeu é membro do Conselho Regional de Economia da Paraíba e vogal na Junta Comercial do Estado da Paraíba. Além de prestar consultoria em projetos e gestão empresarial, Amadeu ministra cursos e palestras, atua como perito econômico pelo TJPB, e é colunista no jornal "A União" e no portal "Paraíba Business". Amadeu também é uma presença constante em entrevistas em mídia televisiva e rádio, compartilhando sua expertise em negócios, economia e finanças.