As plataformas de e-commerce chinesas Temu e Shein enviam juntas cerca de nove mil toneladas de carga para todo o mundo todos os dias, o que equivale a 88 aviões cargueiros Boeing 777, de acordo com uma pesquisa de fevereiro da Cargo Facts Consulting.
Essas plataformas se tornaram tão populares globalmente que fizeram os preços do envio rápido por avião da China dispararem, criando uma crise de carga que está alterando as rotas comerciais globais.
Segundo os dados mais recentes da empresa de análises logísticas Xeneta, a “taxa média à vista” de frete aéreo partindo do sul da China para os EUA, está em aproximadamente US$ 4,75 (R$ 24) por quilograma. Esse é o valor mais alto desde o final do ano passado, comparável ao pico de demanda típico do período que antecede a temporada de festas. Esse valor é mais do que o dobro do registrado no mesmo período em 2019, quando a taxa era de US$ 2,32 (R$ 12) por quilograma.
Isso se deve ao fato de que as principais compras vindas dessa região costumavam ser produtos pequenos e de alto valor, como smartphones e laptops, além de perecíveis, como peixes e flores. No entanto, com o aumento das compras online, as aeronaves agora transportam mais roupas e artigos domésticos.
As taxas ainda estão abaixo dos picos recentes de 2020 e 2021, quando alcançaram entre US$ 10 (R$ 51) e US$ 12 (R$ 62) por quilograma. Esses picos foram causados pela pandemia, que gerou escassez de remessas e problemas nas cadeias de suprimentos em todo o mundo. Atualmente, analistas afirmam que o aumento é impulsionado principalmente por duas empresas: Temu e Shein.
“Ninguém previu isso no ano passado”, disse Niall van de Wouw, diretor de frete aéreo da Xeneta. “Os volumes deles podem ser da mesma ordem de magnitude que o maior despachante de cargas do mundo. As quantidades deles são insanas.”
Temu, que vende principalmente roupas e utensílios domésticos, e Shein, que construiu sua marca com moda e desde então se expandiu para eletrônicos de consumo e itens de cozinha, são diferentes de outros varejistas porque vendem itens fabricados diretamente por empresas chinesas desconhecidas. Parte do baixo custo deles vem da decisão de enviar diretamente a partir desses fabricantes, em vez de trabalhar com marcas conhecidas que impõem custos, preços e padrões de qualidade maiores.
Temu e Shein estão mudando o cenário
Temu e Shein estão transformando a logística global. Para acompanhar o crescimento dessas plataformas, algumas empresas de logística e companhias aéreas estão aumentando a quantidade de voos. A Atlas Air, por exemplo, anunciou o lançamento de um segundo avião de carga em parceria com a YunExpress.
A Korean Air informou que gerou US$ 2,8 bilhões (R$ 14 bilhões) em receita no primeiro trimestre de 2024, um aumento de 20% em relação ao ano anterior, devido a uma “demanda robusta de carga”. A companhia acrescentou que no segundo trimestre seu negócio de carga se beneficiaria do crescente e-commerce na China, fortalecendo parcerias e alocando capacidade em rotas-chave.
Nova no Brasil, mas conhecida do mundo
A controladora da Temu, PDD Holdings, também é proprietária do e-commerce Pinduoduo, que opera exclusivamente na China e tem um valor de mercado superior a US$ 167 bilhões. Com mais de 17 mil funcionários em todo o mundo, a maioria na China, a PDD Holdings registrou lucros anuais recordes de mais de US$ 8,4 bilhões (R$ 43 bilhões) em 2023. Aproximadamente US$ 5 bilhões (R$ 26 bilhões) desse total foram lucro líquido atribuídos a “outras subsidiárias da PDD Holdings”, incluindo a Temu.
A Shein, avaliada em US$ 66 bilhões (R$ 340 bilhões), tem ganhado rapidamente espaço no mercado dominado por marcas de moda como Gap e Macy’s. A empresa de capital fechado expandiu rapidamente sua receita, de aproximadamente US$ 2,5 bilhões (R$ 13 bilhões) em 2019 para um estimado de US$ 48 bilhões (R$ 247 bilhões) este ano, de acordo com a ECDB, uma empresa alemã de análise de e-commerce.
Ambas as empresas, que provavelmente ultrapassarão receitas de US$ 90 bilhões (R$ 463 bilhões) este ano, têm potencial para uma temporada de festas recorde. Os transportadores já estão preocupados. “O fato de estarmos discutindo esse mercado tão cedo no ano está levando muitos a preverem uma temporada de pico desafiadora no quarto trimestre”, disse Brian Bourke, diretor comercial da SEKO Logistics.
Fonte: The News e Forbes