
Em março deste ano, o Japão recebeu quase 3,1 milhões de visitantes, o maior número mensal desde o início dos registros, em 1964. Se essa tendência persistir, é provável que o país supere seu recorde de 31,9 milhões de turistas por ano, registrado em 2019 pouco antes da pandemia de COVID-19.
Os gastos totais com turismo receptivo aumentaram para ¥ 1,75 trilhão (US$ 10,8 bilhões) no primeiro trimestre do ano. De acordo com análises da Fortune e dados da Oxford Economics, isso posiciona o turismo como o segundo maior produto de exportação do Japão, superando até os semicondutores e ficando atrás apenas dos automóveis.
Para Jeremy Bek, head global da plataforma de viagens japonesa Rakuten Travel, o aumento das viagens ao Japão resulta mais do que apenas de uma moeda fraca. Hoje, os turistas buscam experiências únicas, prontas para as redes sociais, em vez de apenas comida e compras. “É a cultura do Instagram, certo?”, analisa Bek. “Não se trata do que você come ou do que você faz. É sobre o que as pessoas veem você comer e fazer. E o Japão é lindo. Há tantas coisas lindas para postar no Instagram.”
Como o enfraquecimento do iene está beneficiando o turismo?
O iene, há muito tempo um porto seguro para investidores em tempos de crise, perdeu valor em relação ao dólar. Há um ano, um dólar norte-americano valia 140 ienes; hoje vale cerca de 161 ienes.
A política de taxas de juros mais elevadas e por mais tempo promovida pelo Federal Reserve dos EUA deixa o dólar norte-americano mais atraente para os investidores e coloca pressão sobre várias moedas asiáticas.
O Japão resistiu aumentar suas taxas de juros enquanto travava uma batalha de décadas contra a deflação. Em março, o banco central do Japão aumentou as taxas de juro acima de zero pela primeira vez em 17 anos. O aumento ocorreu após as empresas japonesas concordarem com grandes aumentos salariais, o que trouxe esperança de que os consumidores japoneses pudessem começar a gastar mais e impulsionar a economia.
Mesmo a Japan Airlines, uma empresa que depende de viagens para gerar receita, está se tornando cada vez mais cautelosa com o iene fraco, à medida que as viagens para o exterior se tornam muito caras para muitos japoneses.
Por que o Japão está reclamando do excesso de turismo?
A Rakuten Travel está se beneficiando do boom das viagens para o país. As reservas aumentaram 75% no primeiro trimestre de 2024 em comparação com o mesmo trimestre de 2019, antes da pandemia de COVID, diz Bek. O valor bruto da operação também aumentou 200% no mesmo período.
Segundo dados do governo japonês, a maioria dos turistas vem da Coreia do Sul, China continental, Taiwan e Hong Kong. Bek diz que os turistas procuram experiências mais autênticas e abrangentes, em vez dos principais pontos turísticos de Tóquio e Osaka.
Alguns japoneses estão reclamando do aumento do turismo, queixando-se da superlotação e do mau comportamento dos turistas. (Vários outros destinos turísticos, como a Espanha e a Grécia, também estão sofrendo uma reação negativa ao “excesso de turismo”.)
Em Kyoto, uma grande atração turística, um candidato a prefeito chegou a ser eleito graças a reclamações sobre turistas. Koji Matsui fez campanha contra o turismo excessivo, citando a insatisfação com turistas que carregam malas em transportes públicos lotados.
Por outro lado, a cidade japonesa de Fujikawaguchiko instalou uma barreira que bloqueia um mirante famoso de onde é possível fotografar o Monte Fuji. Os moradores locais se irritam com o crescente número de turistas que jogam lixo, fazem invasões e desrespeitam as regras de trânsito em busca de uma foto ideal para postar em redes sociais.
Mesmo assim, os turistas não se intimidam na busca pela foto perfeita. As pessoas estão até fazendo buracos na barreira para poder tirar fotos, diz Bek.
O aumento de visitantes levou algumas atrações e empresas a considerarem a implementação de preços diferenciados, com uma tarifa normal para residentes japoneses e uma tarifa mais alta para turistas. Himeji está considerando cobrar dos estrangeiros um preço maior para visitar o Castelo de Himeji, um Patrimônio Mundial da UNESCO de 400 anos, supostamente para ajudar a financiar a manutenção necessária.
Bek acredita que as preocupações com o turismo excessivo se limitam principalmente às grandes cidades como Tóquio, Quioto e Osaka. Segundo ele, cidades de menor destaque ainda não estão “superpovoadas”.
Felizmente para os turistas, Bek diz que os hotéis com os quais trabalha não estão considerando cobrar mais dos estrangeiros. Bek observa que os hotéis ainda têm capacidade suficiente para atender tanto os turistas estrangeiros quanto os nacionais. Mesmo com o boom das viagens, ele acredita que os hotéis do Japão estão agindo com cautela no que diz respeito à capacidade.
“Eles não querem uma repetição da situação da COVID”, diz ele. “Se dependerem demais dos turistas internacionais e depois as coisas fecharem, eles ficam sem clientes.”
Fonte: InfoMoney/Fortune Media IP Limited/Distribuído por The New York Times Licensing Group