O potencial da cachaça é gigante

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O turismo é formado por produtos, aquilo que faz com que pessoas queiram estar naquele lugar para ver aquele produto. O produto pode ser um lugar, pode ser uma cultura, um hotel, um restaurante, e milhares de outras coisas que despertam a atração do ser humano. A Paraíba possui vários produtos que tem um grande potencial turístico, entre eles, claro, as nossas praias, o centro histórico com monumentos arquitetônicos esplendorosos, a cultura com suas peculiaridades. Aqui quero destacar um produto paraibano que tem alta demanda para o turismo e ainda merece uma atenção especial: a cachaça.

Essa bebida, que é genuinamente brasileira, está mesclada a nossa história do Brasil. É impossível contar a história do país ou da cachaça sem mencionar um ou outro. Aqui na Paraíba, desde o início da colonização e a chegada da cana-de-açúcar com os portugueses, os engenhos prosperaram e tínhamos o melhor pão-de-açúcar produzido nas Américas, conforme afirma texto da Liga Hanseática.

Como se sabe, o açúcar, riqueza que gerou os engenhos, era comercializado em forma de cone, daí o nome de pão. Segundo o pesquisador Câmara Cascudo, onde “moi um engenho destila uma cachaça”, e, desde sempre, já havia produção de cachaça na Paraíba, que, ao longo da história, foi a bebida dos escravizados, moeda de troca, foi proibida na época do Império e tinha fama de má qualidade.

Nestes tantos séculos que se passaram os engenhos atravessaram diversas fases da história com muitas mudanças econômicas, mas não morreram. E desde os anos de 1990 ressurgiram com uma produção de cachaças de alambique que atualmente são famosas no país inteiro e medalhistas nos concursos internacionais.

A cachaça não é só um produto. Valoriza a cachaça é valorizar o Brasil, porque a cachaça é um aglomerado de cultura, historia, geografia e conhecimento agregado que poderia alavancar o turismo da Paraíba. O potencial é infinito: são várias regiões produtoras, exportação, engenhos com receptivo, hospedagens, cursos especializados, gastronomia, coquetelaria, entre tantas cadeias que seriam beneficiadas. A vocação natural da Paraíba, que tem cerca de cem engenhos produtores de cachaça registrados, precisa alavancar.

No México, a bebida nacional, a tequila, ganhou fama no mundo e, consequentemente incremento absurdo nas vendas e exportações devido ao marketing muito bem feito, entre eles, em filmes de Hollywood. É preciso a participação do poder público na luta. Os produtores, sozinhos, não conseguem mudanças tão rápidas. O Ibrac – Instituto Brasileiro da Cachaça junto com diversas associações divulgou um manifesto no evento Brasil Cachaças, realizado este final de semana, no Espaço Cultural.

 Enquanto o Brasil exportou 8,6 milhões de litros de cachaça, o México exportou 399 milhões de litros de tequila para 190 países. A cachaça é um dos produtos mais taxados do Brasil. O manifesto defende o fim de privilégios para algumas categorias de bebidas, isonomia tributária para bebidas alcoólicas, independente do teor. Já está mais do que na hora de aprendermos com a tequila, do México, com o pisco, do Peru e do Chile, como whisky da Escócia, com o sakê, do Japão, entre tantos outros, a valorizar também o nosso patrimônio nacional.

Rosa Aguiar
Rosa Aguiar é jornalista com graduação em Comunicação Social pela UFPB, especialização em Redação Jornalística pela Universidade Potiguar e Mestrado em Jornalismo Profissional pela UFPB.