O poder do repertório

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Será que eu sou interessante? Como vou conversar com aquela nova pessoa, se o meu medo de falar bobagem e ser rejeitado pelo grupo me trava? Tudo bem que já aprendi todas as regras de bom networking profissional e social e transito muito bem pelo campo das etiquetas, mas será que aquilo que vou dizer na hora da conversa é suficientemente interessante para impressionar a turma e me fazer destacar? Será que vão me achar ridículo? E se um silêncio súbito se abater sobre o círculo de convivas?

Saber-se interessante é uma reflexão que talvez você nem tenha tido conscientemente, mas seu inconsciente já a ativou em forma de medo de interagir, por medo de não saber o que dizer, concorda?

Então, como ser efetivamente interessante e ter um bom papo sempre na ponta da língua? Não há outra resposta: tendo um bom repertório.

Pense numa boa banda. Salvo engenhocas de marketing, ela é agradável aos ouvidos e faz sucesso se tem bom repertório. Assim como com a banda, acontece conosco. Somos interessantes se temos bom repertório, e ATENÇÃO, a jogada de mestre está em construir esse repertório com intencionalidade e não como reféns dos acasos.

Pensemos em nossas mentes como HDs ou chips de memória de um dispositivo. Tudo o que ela absorve, fica ali guardado e, bingo, dali sairá em forma de respostas, assuntos, pontos de vista, pensamentos, papo furado ou mesmo conversas seríssimas de trabalho. Aquele arcabouço de informações formatará nossas opiniões e até mesmo impactará nos nossos sentimentos.

Voltando para a interação, tudo o que nós pensamos e dizemos vem do que está em nossa mente. E tudo o que está em nossa mente, foi ali depositado, formando o que aqui chamo de repertório. Entenderam a seriedade de fazermos uma curadoria meticulosa do que alimenta nossas mentes? Pensamos, falamos e fazemos segundo o que ali está. Será que estamos pensando, falando e fazendo bem? Momento de auto reflexão…

Em um mundo onde nos preocupamos com problemáticas extremas, causadas por lixo material e impossibilidade de descarte ou mesmo lixo espacial vagando por nossa galáxia, você já parou para pensar na quantidade de lixo mental que a internet nos faz produzir em nossas próprias mentes?

Abrimos o celular e, em um minuto, somos bombardeados com a nova dancinha do funk, uma guerra iminente no Líbano, o correspondente pró Líbano, o crítico ao correspondente pró Líbano, o meme do momento, a nova gíria da geração Z, a viagem dos amigos aos Alpes, a receita do shake fit, a nutricionista condenando o uso indiscriminado do termo “fit”, a propaganda do carro elétrico, o vídeo informando vida curta à tendência do carro elétrico, a selfie da sua vizinha de prédio, o cachorro fazendo estripulias, e ufa! Para onde vai tanta informação aleatória? Para o HD da sua mente. Para o seu repertório. Cuidado! Volume de informações pode sim gerar lixo mental no seu repertório.

Não adianta culpar as redes sociais. Elas são um caminho sem volta, ainda que, penso eu, haja uma incipiente tendência a nos educarmos em relação ao seu uso.

Fato é que, de acordo com o Relatório Digital 2024, publicado em parceria entre We Are Social e Meltwater, os brasileiros passam em média 3 horas e 37 minutos por dia nas redes sociais, ficando em terceiro lugar mundial no tempo gasto ali. Isto posto, que saibamos dar qualidade a todo esse tempo. É preciso dividir de forma intencional e estratégica o tempo que gastamos nos divertindo com postagens de humor, do tempo que gastamos imersos em notícias relevantes, em cultura geral e posts educativos (sim, eles existem!) É preciso, repito, INTENCIONALIDADE na hora de se gastar tantas horas em rede social. Uma boa limpeza na lista dos perfis que seguimos, curadoria de curtidas para educar o algoritmo a nos mostrar mais conteúdo de valor e menos “lixo virtual”.

Em contrapartida aos dados de redes sociais, em rankings que medem o hábito da leitura, muito embora o brasil figure em posições variadas, o cenário não é animador. Em 2023, a IEA, Associação Internacional para a Avaliação de Conquistas Educacionais, colocou o Brasil na 52ª posição entre 57 países avaliados segundo a quantidade média de horas que seu povo gasta em leitura. Somos um povo que, culturalmente, lê muito pouco. Atenção a isso! Carecemos de esforço e desenho de metas individuais para sairmos da curva natural de nossa cultura e, lermos. Que tal estipular a meta de um livro por mês? Mais uma vez, se não houver intencionalidade moldando os hábitos, não haverá a educação dos hábitos.

Falamos sobre um exemplo nocivo (mau uso da internet) e um exemplo positivo (leitura), mas uma lista de formas de bem alimentarmos nosso repertório vai aqui embaixo e, eu sugiro que você reflita sobre cada sugestão e intencione a aplicar no seu dia a dia.

  1. Seja curioso e atento ao novo. Novas pessoas, novas histórias. Se você está sempre com o mesmo padrão ou grupo de pessoas, ouve sempre as mesmas histórias e experiências. Conheça pessoas com estilos de vida diferentes do seu e escute suas histórias, seja curioso sobre suas culturas. O novo diversifica nosso repertório, nos traz novos pontos de vista ou, ao menos, testa e baliza os pontos de vista que já temos.
  2. Mantenha um olhar sempre aberto às artes. Artes servem para nos provocar e instigar. São sempre um impacto, se observadas com o olhar correto. Teatro, cinema, exposições. E, mais uma vez, que tal ser curioso e ousar conhecer artes que ainda não fazem parte do seu estilo e gosto? Você ama impressionismo, mas vá a uma exposição de arte contemporânea e se abra ao impacto que ela pode te causar. Você ama rock, mas se aventure a observar as melodias de um forró raiz. Curiosidade e olhar para a arte são um caminho muito potente para impactar bem nossas mentes, exercitar o olhar, nos tirar do lugar comum.
  3. Viaje! Esse ferramenta dispensa comentários. Diversifique destinos, inclua programações culturais, ande livremente pelos locais que visitar, sem se aprisionar a pontos turísticos ou da moda. Só assim, em contato com o cotidiano mais natural daquele lugar, longe dos pontos turísticos, você realmente conhecerá aquele povo, viverá a experiência de ali estar. Expandirá sua mente.
  4. Tenha momentos de ócio saudável. Contemplar a natureza, pisar na terra, estar em silêncio. Isso acalma as nossas mentes do turbilhão de informações aleatórias que ela recebe e, eventualmente, depura o que é bom e o que é ruim.
  5. Esteja atendo às notícias do mundo. Sim, você precisa estar atento aos noticiários diários. Seja pela TV, por podcasts, revistas, resumos otimizados. As mídias nos mostram mil caminhos. Quem está atento às notícias e novidades do mundo da política, ciências, artes e variedades tem bons assuntos sempre na ponta da língua.
  6. Preencha seus tempos de engarrafamento, salas de espera e afins, ouvindo bons podcasts. As plataformas estão cheias deles, com os mais diversos temas relevantes, interessantes e educativos. Releve o irrelevante, procure assuntos do seu interesse e eduque-se a ouvir. Eu sei que já estamos quase criando raiva da palavra podcast, mas sim, eles são uma excelente fonte de informação!
  7. Conheça e valorize suas raizes. Uma parte muito importante no repertório de cada um é saber falar sobre sua própria cultura. Conheça as histórias da sua terra, seus artistas, seus antepassados, lutas, causos. Enfim, tenha raizes, orgulhe-se e saiba falar sobre elas.
  8. Dívida seu tempo de Netflix e seriados em geral com documentários. Os streamings estão repletos de ótimos documentários que nos alimentam com conteúdo de valor.
  9. Leia! Exercite ao máximo o hábito da leitura. Eduque sua rotina para tanto. A leitura liberta, nos traz entretenimento de valor, nos leva a mundos novos. Mas esse hábito precisa ser exercitado para virar hábito, ainda mais, em um tempo onde estamos todos com nossos cérebros tão acelerados, dado o volume de informações trazido pela internet.
  10. Falando em internet, use-a a seu favor. Visitas guiadas a museus pelo mundo todo através de seus sites, acesso a e-books em um clique, acesso a perfis de conteúdos relevantes na rede social. A internet é fonte infindável de cultura, desde que eduquemos o nosso uso com o que? Sim, você já sabe, intencionalidade!

Bom repertório a todos vocês!

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Milena Neves
Advogada, palestrante e criadora de conteúdo. Pós-graduada em Neurociências, especialista em Etiqueta Social e Corporativa, pesquisadora da gentileza como geradora de resultados.