O poder da eloquência, com ou sem inteligência

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George Orson Welles, nascido em Kenosha, Wisconsin, EUA, em 06 de maio de 1915, faleceu aos 70 anos em Los Angeles, Califórnia. Foi ator, diretor, escritor e produtor e iniciou carreira no rádio em 1934. Quatro anos depois, começou a produzir peças de radioteatro para a rádio CBS. Na ocasião, com base no clássico de ficção de H. G. Wells, A Guerra dos Mundos, Orson, em formato de noticiário, dramatizou um texto com tal eloquência e realismo que milhares de pessoas, sem perceber que se tratava de encenação, em pânico, fugiram de suas casas.

Eloquência e inteligência são características humanas frequentemente interligadas, mas podem se manifestar de formas distintas. Enquanto a inteligência diz respeito à capacidade de adquirir conhecimento, raciocinar logicamente e resolver problemas, a eloquência se concentra na
habilidade de expressar ideias de maneira clara, persuasiva e cativante, embora nem sempre de forma honesta. Ser eloquente não significa que o argumentador seja inteligente. Aliás, não raro, eloquência não passa de retórica, sem qualquer conteúdo realmente louvável.

Alguém pode dominar a arte da retórica, utilizando palavras e expressões impactantes para transmitir as suas ideias, sem que isso signifique que elas sejam necessariamente profundas ou originais. A eloquência pode ser usada para persuadir e emocionar. Contudo, em boa parte das vezes, não passa de mera manipulação, independentemente da veracidade ou da qualidade do conteúdo que se pretenda transmitir. A inteligência, por sua vez, nem sempre revela eloquência, mas pode ser a base para a construção de sólidos e consistentes argumentos.

O case de Orson Welles, com sua transmissão radiofônica A Guerra dos Mundos, é um rico e notável exemplo de como a eloquência pode ser usada para persuadir e influenciar um grande número de pessoas, independentemente da veracidade do conteúdo. Welles, com sua voz cativante e sua narrativa envolvente, conseguiu convencer milhares de ouvintes de que a Terra estava sendo invadida por alienígenas, causando pânico e histeria em massa. No Brasil, o jornalista e político Carlos Lacerda encantava seus ouvintes com sua envolvente retórica.

A falta de eloquência pode limitar a capacidade de alguém para influenciar, persuadir ou compartilhar seu conhecimento com o mundo. Por isso a inteligência pode ser interpretada como pré-requisito para a boa eloquência. Um indivíduo inteligente, com bom domínio do conhecimento e da linguagem, pode desenvolver facilmente a capacidade de se expressar de forma clara, coerente e persuasiva. A inteligência fornece a base necessária para a construção de argumentos sólidos, com palavras precisas e adaptação do discurso a quem ele é dirigido.

A eloquência, que não implica inteligência, ou vice-versa, exige o desenvolvimento de habilidades, como falar em público, comunicação corporal e uso de recursos retóricos. Ela pode ser aprimorada com prática e estudos. A inteligência, inerente a todo ser humano, precisa de estímulos cerebrais para ser aperfeiçoada. Ambas podem ser benéficas ou danosas. Mas a inteligência, ainda que não eloquente, pode produzir o bem. A eloquência, contudo, com ou sem inteligência, pode ser muito danosa. Sem produzir nada de bom, pode causar muito mal!

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João Teodoro Silva
João Teodoro da Silva é corretor de imóveis desde 1972, empresário no mercado da construção civil, advogado, matemático, neurocientista, jornalista, foi professor de Matemática, Física e Desenho na PUC/PR e Desembargador Federal do Trabalho junto ao TRT/PR. Foi presidente do Jornal Imobiliário do Paraná; presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Estado do Paraná; diretor da Federação do Comércio do Paraná; presidente do Creci-PR e é presidente do Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci) desde 2000.