A Embraer vem traçando um caminho diferente das suas maiores rivais, mantendo as fábricas funcionando e entregas fluindo.
A empresa começa 2025 em forte ritmo, após as entregas aumentarem 14% no ano passado, as — a maior alta da Bolsa brasileira — e a nota de crédito atingir grau de investimento pelas agências de classificação de risco.
O desempenho ocorreu apesar dos sérios obstáculos macroeconômicos enfrentados pelo Brasil, incluindo uma taxa de juros em dois dígitos e a desvalorização cambial.
— Vamos continuar com o sell, sell, sell (vender, vender, vender), queremos encher os slots (espaços) de produção nos anos seguintes, então vai ser um foco muito grande —disse o presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, em entrevista à agência Bloomberg, acrescentando que os resultados deste ano serão ainda melhores do que os que a companhia divulgará para 2024.
As importações da América do Norte – principalmente dos EUA – representaram cerca de 56% dos componentes da Embraer nos últimos anos e a empresa também exporta para os EUA. Essa relação comercial bilateral representa um risco se o presidente eleito, Donald Trump, aplicar novas tarifas e o Brasil retaliar na mesma moeda.
Mas Neto minimizou a ameaça, dizendo que uma guerra comercial prejudicaria as empresas dos dois países:
— Não podemos dizer o que vai acontecer, mas confiamos no bom senso de ambos os lados.
Sem Boeing e melhor
A terceira maior fabricante de aviões do mundo tem ambições de longo prazo para enfrentar o duopólio global da americana Boeing e da europeia Airbus, mas as suas aeronaves menores e seu tamanho ainda a deixam como uma concorrente distante – embora distinta.
Especialistas do setor dizem que ela se beneficiou de uma reputação de excelência em engenharia e de um sólido histórico de projeto de novos aviões com orçamentos e prazos apertados.
Cinco anos após a Boeing desistir do plano de comprar o braço comercial da gigante brasileira, a companhia baseada em São José dos Campos (SP) prospera por conta própria no mercado global de jatos particulares e regionais e tornou-se uma das maiores histórias de sucesso da América Latina.
O desempenho é muito contrastante com o de suas maiores rivais globais. A Boeing trabalha para se reconstruir após um ano brutal marcado por crises internas e acidentes envolvendo suas aeronaves, e as fábricas da Airbus enfrentam obstáculos persistentes na cadeia de fornecimento. A dinâmica poderá abrir portas para a Embraer expandir seu portfólio.
Competir com as grandes? Só no longo prazo
Gomes Neto, que lidera a empresa desde 2019, disse à Bloomberg que um novo programa de aeronaves não é uma prioridade no curto prazo. Mas em outubro ele havia dado a entender que a Embraer estava estudando um novo jato para competir com o 737 da Boeing e o A320 da Airbus.
Por enquanto, a empresa está concentrada em seu atual portfolio, enquanto busca formas de estabilizar sua cadência de produção, ele diz. Historicamente, as entregas tendem a atingir o pico no último trimestre do ano, mas o executivo afirma que quer equilibrar isso ao longo do ano.
— Outra coisa que nós vamos avançar esse ano é o nivelamento da produção — afirmou, referindo-se principalmente ao período entre o segundo e o quarto trimestres deste ano, que prevê como “muito mais equilibrado” que a situação neste primeiro.
Investidores estão confiantes
Os analistas do setor estão confiantes de que a empresa tem espaço para crescer ainda mais em todos os segmentos, com margens mais fortes vindas da aviação comercial e um aumento nas encomendas na frente de defesa, beneficiada por um cenário geopolítico global desafiador.
A empresa entregou 206 aeronaves em 2024, das quais mais da metade eram jatos particulares. O Itaú BBA estima que a Embraer aumentará esse número em 2025, entregando até 220 aeronaves comerciais e jatos particulares.
Os aviões militares também são um ponto positivo para a Embraer. O seu avião de ataque Super Tucano recebeu encomendas de várias nações – do Paraguai a Portugal – e o C-390 Millennium garantiu compradores na Europa e na Ásia, incluindo uma encomenda recente da Coreia do Sul. A companhia espera ainda expandir seus negócios militares com os EUA.
— Os orçamentos de defesa em todo o mundo estão aumentando, a geopolítica está mais complicada do que nunca e há uma margem muito boa para mais pedidos — disse Stephen Trent, analista do Citi, que tem uma recomendação de compra para as ações da companhia.