A adoção de motofaixas exclusivas no Brasil é mais uma prova do famoso “jeitinho brasileiro”. Hoje, ao ler na Folha de São Paulo que, após São Paulo e Santo André, o Rio de Janeiro também começou a testar faixas azuis para motos, é impossível não refletir sobre a solução improvisada que se tornou quase um padrão no país. Essas faixas, com 1,3 metro de largura e localizadas no meio da pista, têm uma velocidade máxima permitida de 60 km/h, enquanto nas demais faixas é de 80 km/h. A ideia parece boa: reduzir acidentes envolvendo motociclistas e organizar o fluxo nas vias expressas. A fase de testes deve durar quatro meses e, se bem-sucedida, poderá ser ampliada para outros trechos da cidade.
Contudo, será que essa solução realmente resolve o problema? Em São Paulo, uma cidade com 7 milhões de carros e 1,3 milhão de motos, as faixas exclusivas para motos parecem ser mais uma gambiarra do que uma solução eficaz. Em vez de investir em melhorias reais para o transporte coletivo, como a criação de corredores exclusivos para ônibus, o poder público recorre ao velho truque de fazer o mínimo necessário para “resolver” um problema, sem realmente atacá-lo pela raiz.
O trânsito brasileiro, caótico e imprevisível, não será transformado por faixas pintadas no asfalto. Os números são alarmantes: em 2023, 142 mil vítimas de acidentes com motos foram internadas no SUS, uma média de quase 400 por dia, um aumento de 9,3% em relação ao ano anterior. Muitos desses acidentes resultam em ferimentos graves, incapacitando permanentemente os envolvidos. É evidente que a simples criação de motofaixas não conseguirá conter o crescente número de acidentes e mortes nas estradas.
O que realmente poderia fazer a diferença seria um planejamento urbano mais robusto e focado em soluções duradouras, como a ampliação dos corredores de ônibus, que são seguros e eficientes. Em vez disso, optamos por paliativos que pouco contribuem para a segurança no trânsito. O que precisamos é de uma mudança estrutural, que priorize o transporte público de qualidade, organize o trânsito de forma mais inteligente e, finalmente, reduza o número de mortes e acidentes nas nossas vias. Até lá, a motofaixa exclusiva não passa de mais uma gambiarra institucionalizada.