Em João Pessoa, a organização popular já resultou em diversas iniciativas de sucesso, como a arborização de terrenos e a criação de praças e estruturas para exercícios físicos. Um exemplo notável é a Eco Praça, localizada no bairro Jardim Oceania. Seis anos atrás, os moradores se uniram para transformar um terreno abandonado, que estava sendo usado como depósito de entulhos, em um espaço verde.
Ruas, calçadas, praças e parques são espaços públicos de uso comum. Eles pertencem a todos e a ninguém em particular, servindo para o convívio social e a realização de atividades coletivas. Embora seja responsabilidade do Poder Público cuidar e manter esses locais, a população também pode intervir para melhorar esses espaços por meio de esforços próprios.
Jefferson Palmeira, um dos moradores envolvidos, relatou: “Começamos aos sábados fazendo a limpeza do terreno público e plantamos uma horta medicinal. Depois, fomos ampliando o espaço, construímos brinquedos, balanços e escorregadores. As crianças e os pais foram se aproximando, criando uma relação com a comunidade.”
O espaço foi expandido com a plantação de árvores frutíferas e plantas nativas, o que fortaleceu o senso de comunidade entre os moradores. “Estreitamos laços e criamos uma associação de moradores. Considero isso uma tecnologia social, pois a experiência se expandiu para outras partes do bairro, despertando um sentimento de pertencimento à área pública,” destacou Jefferson.
Para a manutenção da Eco Praça, os moradores do Jardim Oceania se organizam diariamente. Eles contribuem financeiramente para cobrir as despesas da associação e três ou quatro associados cuidam das plantas diariamente no final da tarde ou início da noite. “Durante o período chuvoso, a rega é menos necessária, mas precisamos sempre monitorar problemas fitossanitários, fazer podas e adubar. Aos domingos pela manhã, realizamos um mutirão de limpeza e cuidados,” explicou.
Atualmente, a associação conta com cerca de 50 moradores. A experiência da Eco Praça gerou um engajamento mais amplo com questões ambientais, com os residentes participando das discussões sobre o Plano Diretor do município, o Código Ambiental e a proteção de áreas da cidade, entre outros temas. A iniciativa também possibilitou outras atividades comunitárias, como uma festa junina, um brechó, práticas de yoga e uma parceria com o IFPB de Cabedelo para catalogar os pássaros que retornaram à região após o replantio das árvores.
Bosque das Corujas já tem cerca de 200 árvores
A experiência do Jardim Oceania inspirou outras iniciativas na região, como o Eco Bosque, a Nova Eco Praça e o Bosque das Corujas, localizado no bairro do Bessa. Fábio Ferreira do Nascimento, um dos moradores responsáveis pelo Bosque das Corujas, contou que o projeto começou em 2020, durante a pandemia.
“Peguei uma enxada e, junto com dois vizinhos, começamos a limpar um canteiro. Em seguida, outro vizinho trouxe uma roçadeira e, pouco depois, uma vizinha se juntou a nós. Fizemos uma reunião e começamos a remover entulhos, limpar, arrancar pedras e plantar. Para regar, utilizávamos a água das nossas próprias casas,” relatou Fábio.
Com o esforço conjunto dos moradores, foi possível instalar uma caixa d’água para facilitar a irrigação das plantas. Posteriormente, perfuraram um poço com autorização do Poder Público. Hoje, o espaço conta com cerca de 200 árvores plantadas, segundo Fábio.
“Tudo foi feito com nosso próprio dinheiro. Temos um grupo no WhatsApp para organizar as atividades. Pagamos pela limpeza e pela compra da bomba do poço com o que arrecadamos em contribuições. Os moradores também fazem um revezamento para irrigar, especialmente no verão. O movimento cresceu com o boca a boca,” destacou ele.
O Bosque das Corujas recebeu esse nome devido à presença de famílias de corujas que já faziam ninhos no local antes da arborização. “As corujas buraqueiras estão ali há pelo menos 10 anos. Por isso, o nome,” explicou Fábio.
Inicialmente, foi desafiador convencer os moradores a não jogar lixo no local. “Começamos a denunciar pelo grupo do WhatsApp sempre que alguém jogava lixo. Com isso, conseguimos coibir a prática, e as coisas começaram a melhorar. Hoje, o bosque está de pé,” disse ele, orgulhoso.
Outra iniciativa que beneficiou o espaço público foi liderada por um grupo de praticantes de calistenia, um método de treinamento que utiliza o peso do próprio corpo para desenvolver força e resistência muscular. Segundo o profissional de educação física Yanko Medeiros, a equipe montou equipamentos na Praça da Paz, no bairro Bancários. “Nós mesmos instalamos as barras e paralelas aqui e em outros bairros de João Pessoa,” relatou Yanko.
Ele acrescentou que os usuários dos equipamentos ajudam a cuidar dos mesmos. “Os pesos foram feitos pelos próprios moradores e todos podem usar. Colocamos placas com avisos para não retirar os equipamentos, mas às vezes isso ainda acontece, ou eles são quebrados. Quando quebramos dois, fazemos três,” disse, rindo.
Na região da Praia do Cabo Branco, também há uma “academia de pedra” criada e mantida pela população. “Tudo foi montado pela comunidade: barras, pesos, tudo. Se algum equipamento quebra, nós consertamos. Não há participação do governo,” afirmou Yanko.
Fonte: Jornal A União