Diferente de outras capitais do Nordeste a exemplo de Recife ou Natal, João Pessoa nasceu de costas para o mar a partir do leito do Rio Sanhauá, mais precisamente no baixo Varadouro. Esse fator importa quando passamos a analisar como se deu a ocupação da cidade até os dias atuais. Basta dizer aos mais jovens que as badaladas praias de Tambaú e Cabo Branco serviram em outrora exclusivamente para o veraneio de poucas pessoas, tendo como razão principal o fato de a região central ter permanecido durante muito tempo como a mais nobre e adensada da capital.
Avenidas como a Maximiano de Figueiredo, Camilo de Holanda e Getúlio Vargas, todas situadas no Centro, abrigaram durante décadas as residências das famílias mais abastadas e destacadas da sociedade local. A partir da década de setenta houve uma migração de moradores para os bairros localizados entre o Centro e a Praia, com destaque para os Estados, Miramar, Tambauzinho e Expedicionários. As mansões construídas em grandes lotes davam o indicativo de um novo movimento no mercado imobiliário da época, gerando uma valorização nos bairros que se apresentavam como a bola da vez. Com efeito, seguindo um fluxo natural da migração, os bairros Manaíra, Tambaú e Cabo Branco, passaram a ser ocupados mais fortemente a partir do final do início da década de 80 com fins de residência fixa, perdendo a característica inicial de veraneio. Os pequenos edifícios também surgiam dando o ar da verticalização.
Nessa mesma linha de raciocínio, vale lembrar o primeiro boom imobiliário do bairro Intermares, em Cabedelo, no início dos anos 90. Antigo Mar dos Macacos, o loteamento, sem qualquer infraestrutura urbana, foi invadido por belos e majestosas torres residenciais, se anunciando como a moradia dos emergentes, tal qual a Barra da Tijuca fora para o Rio de Janeiro. A falta de saneamento básico, pavimentação e outros serviços, entretanto, fez com que o bairro enfrentasse por mais de vinte anos uma estagnação em termos de valorização e novas ofertas. Hoje, diga-se, Intermares, juntamente com Ponta de Campina, Poço, Camboinha e Formosa, integra uma nova realidade e abriga belos projetos imobiliários atraindo residentes de todo o Brasil, principalmente aposentados que buscam qualidade de vida a um custo razoável.
Todo esse preâmbulo histórico se faz importante diante da realidade do mercado na atualidade. Os bairros das praias se valorizaram, recebem a todo instante incontáveis lançamentos imobiliários, sendo estes negociados em sua maioria para famílias residentes em outros Estados da federação e também fora do Brasil. Outro fator que requer atenção é a certeza que boa parte da população local que reside nas praias já não possuem as condições necessárias para reinvestir na compra de um novo imóvel no mesmo local. Qual a consequência natural dessa constatação? Há uma tendência dos bairros mais acima da orla, como Jardim Luna e os já citados Estados, Tambauzinho e Miramar, voltarem a receber novos projetos de residenciais para atender a demanda de quem não mais se encaixa no perfil de preços da praia, assim como opta, por razões diversas, por estes bairros não menos nobres.
O fato é que a cidade João Pessoa não pertence mais somente aos seus filhos. Os arquitetos, incorporadores e corretores não podem esquecer dos residentes nativos e precisam pensar soluções de moradia que se encaixem nos diversos perfis econômicos. É nesse sentido que ouso afirmar que, não na mesma proporção das praias, os bairros da região mais alta serão a solução para boa parte da população local.