
Marcas de itens de luxo estão oferecendo descontados de até 50% na China, à medida que os consumidores da classe média, que antes eram vorazes na hora de comprar produtos caros, estão reduzindo seus gastos e os varejistas enfrentam problemas de excesso de estoque, informa o jornal Financial Times. Entre as marcas que estariam fazendo “promoções” estão Versace e Burberry.
O jornal lembra que as marcas de luxo começaram a vender seus produtos em plataformas de comércio eletrônico locais para aproveitar o boom de gastos com luxo durante a pandemia. No entanto, diante de uma economia mais lenta em se recuperar, as empresas de e-commerce estão reduzindo os preços para atrair mais consumidores.
De acordo com a reportagem do FT, no início deste mês, a grife Marc Jacobs estava oferecendo um desconto de mais de 50% em bolsas, roupas e sapatos no Tmall Luxury Pavilion, a plataforma de comércio eletrônico premium da Alibaba, enquanto a Bottega Veneta estava oferecendo parcelas de até 24 meses sem juros para a compra de bolsas no mesmo site.
Segundo a Luxurynsight, plataforma de soluções tecnológicas e de dados para a indústria do luxo, os descontos médios em produtos da Versace e Burberry na China em todos os canais de distribuição alcançaram — e em alguns casos excederam — 50% em 2024, em comparação com 30% e 40% em 2023, respectivamente.
Ao divulgar os resultados do primeiro trimestre na segunda-feira, a Burberry alertou que os lucros anuais ficariam aquém das expectativas, com vendas em lojas na China continental caindo 21%. Em entrevista ao FT, a empresa assinalou ainda que o gasto dos clientes chineses no exterior “diminuiu, mas se manteve melhor do que na China continental”.
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Marcas de primeira linha como Louis Vuitton, Hermès e Chanel, que têm sido mais resilientes em todas as regiões e miram consumidores de alto poder aquisitivo, mantiveram um controle mais rígido sobre a distribuição e evitaram descontos, segundo especialistas citados pelo jornal britânico.
Dados informados pela consultoria Bain ao Financial Times apontam que o mercado de luxo doméstico da China dobrou de tamanho entre 2019 e 2021, à medida que as restrições de viagens durante a pandemia de coronavírus forçaram os compradores a adquirir produtos em casa.
Para responder à crescente demanda, as empresas estocaram produtos e se apressaram para expandir seu alcance no mercado, juntando-se a grupos locais de comércio eletrônico de terceiros, .
“Os consumidores chineses não podiam ir a lugar nenhum, então faziam compras no mercado interno, não importava o quanto você cobrasse,” disse Veronica Wang, sócia da firma de consultoria OC&C em Hong Kong, em entrevista ao Financial Times.
Em 2022, a bonança do luxo na China tomou um rumo diferente, quando o governo impôs lockdowns em cidades como Xangai, Pequim e Guangzhou, lembra a reportagem. Após as restrições serem aliviadas no fim do ano, a recuperação do mercado foi atenuada pelo crescimento econômico em desaceleração, uma crise imobiliária que persiste até hoje, o aumento do desemprego juvenil e a baixa confiança do consumidor.
Diante deste cenário. as marcas e os varejistas de luxo ficaram com excesso de estoque e começaram a oferecer descontos à medida que as viagens internacionais foram retomadas. Um iene fraco também contribuiu para a situação, ressalta o jornal.
Dados oficiais divulgado na segunda-feira apontam que a atividade econômica da China desacelerou no segundo trimestre, não alcançando as previsões. No período de abril a junho, o, abaixo do esperado. As vendas no varejo cresceram 2% e decepcionaram analistas. Junto com a crise no setor imobiliário, o cenário eleva a pressão sobre Pequim para liberar mais estímulos e aumentar a confiança dos consumidores e investidores.