Vivemos uma época em que as ações em parceria são frequentemente estimuladas, seja entre entes privados, seja pelas gestões públicas. Neste último ponto, difícil não imaginar que capitais vizinhas possam planejar ações conjuntas em prol de interesses comuns, principalmente quando relacionadas ao turismo. Foi o caso da querida Natal, durante décadas espelho de desenvolvimento para João Pessoa, no sentido do quê e como fazer para consolidar-se como destino, mas também do que não realizar hoje para não repercutir negativamente no futuro.
Nos últimos quinze anos, Natal passou a viver um declínio nos mercados turístico e da construção civil, após ser assolada por crises econômicas globais que fizeram com que os investidores estrangeiros, a qualquer custo, retirassem seus ativos da cidade e deixassem uma lacuna enorme a ser preenchida sabia-se lá quando. Os resorts da via costeira entraram em crise e aos poucos foram perdendo seus conceitos por ausência de público, os estoques de unidades imobiliárias foram negociados a preço de banana, os vôos charters internacionais desapareceram, reafirmando uma crise sem precedentes e agravada ainda pela falta de diálogo entre as gestões públicas da capital e a do Estado do Rio Grande do Norte.
Acontece que, com o resultado da última eleição, Natal havia dado um suspiro de alívio com o a eleição do prefeito Paulo Eduardo, derrotando aparentemente as forças políticas que estariam a contribuir com tanto descaso. Recentemente, entretanto, foi postada notícia do blog do Robson Pires dando conta que o prefeito eleito, durante a sua posse, concordou com o ex-Senador José Agripino quando este afirmara que “Natal está na rabeira de João Pessoa”. Até aí nada demais por se tratar de uma afirmação verdadeira diante do momento vivido. Entretanto, sua excelência o prefeito Paulo Eduardo erra e adota uma postura infantil e que não coaduna e nem contribui com o tempo atual ao afirmar que “tá bem pertinho de João Pessoa voltar a ser o curral de Natal”, fomentando uma posição separatista, que não representa o sentimento das duas populações e tão somente retrata um aparente desespero diante do cenário encontrado e eventual incapacidade para encontrar soluções adequadas.
Precisa entender o prefeito de Natal que afirmações como essa não impedirá que o natalense permaneça, em massa, frequentando de forma assídua a bela João Pessoa em busca dos inúmeros passeios náuticos por Areia Vermelha, Picãozinho ou durante o pôr do sol do Jacaré, assim como também da rica gastronomia e do astral dos festivais promovidos o ano inteiro. É essencial ainda entender que isoladamente Natal não retomará o seu protagonismo econômico e que dialogar com os Governos Estadual e Federal será uma obrigação. A Paraíba tem feito seu dever de casa, a unidade foi conquistada quando relacionada ao interesse do Estado, os seus empresários permanecem dialogando no caminho do progresso e não abrem mão, inclusive, de estender as mãos aos colegas que estão migrando do Rio Grande do Norte e de outros estados da federação com o fim de participar do ciclo de desenvolvimento imobiliário e turístico.
Dessa forma, como necessitaria de maior espaço para expressar e interpretar os alvissareiros números gerados na economia de João Pessoa e da Paraíba, atinemos apenas a indicadores como o aumento populacional de 15% de acordo com o último censo do IBGE, às obras estruturantes que estão sendo realizadas pelos três entes federados, aos hotéis e parques em construção no polo turístico do Cabo Branco, numa perspectiva que a partir do verão de 2026 um novo salto seja dado no fluxo turístico local. Além disso, em torno de 70% das transações realizadas no mercado imobiliário pessoense são com investidores e famílias de fora da cidade, com foco no nacional, mas representando uma forte captação de recursos para o nosso torrão.
Por fim, a expectativa do pessoense e do paraibano, tenho certeza, é no sentido que Natal volte a conviver com novas e promissoras perspectivas, sem precisar ser denominada como curral de Fortaleza, mas de forma harmônica, pacífica, inteligente, em parceria, com respeito, profissionalismo, dignidade, integração, adotando, ademais, posturas políticas e administrativas que orgulhem os seus cidadãos.
Não restam dúvidas que os filhos de João Pessoa estarão assistindo e vibrando com o soerguimento econômico e social da bela Natal, não como curral, mas sim como destino turístico arduamente consolidado e que tem muito a ensinar com seus exemplos e práticas.
Glauco Morais (Advogado, empresário e ex-Secretário de Turismo de João Pessoa).
Instagram: @glauco_morais