O premiado designer Humberto Campana abre um parque com 12 pavilhões na cidade de Brotas, onde passou a infância.
“Uma vez li que a vida é um círculo. Você nasce em um lugar e vai morrer nesse mesmo lugar. E logo pensei: ‘Eu não quero morrer em Brotas, de jeito nenhum’”, diz o premiado designer Humberto Campanha, que até 2020 achava inconcebível a ideia de voltar para a cidade do interior do estado, onde cresceu e passou parte da adolescência.
Pelo mundo, ao lado de Fernando (1961-2022), os irmãos Campanha colocaram o Brasil no centro do mundo no mercado de design. Cadeiras como Vermelha, Favela e Paraíba se tornaram assinaturas da dupla e referências do design brasileiro. Peças assinadas por eles fazem parte do acervo de museus como o MoMA, em Nova York. No ano passado, a poltrona Banquete Panda foi leiloada pela Christie’s por 44.100 dólares.

Aos 70 anos e inspirado por reminiscências do passado, Humberto Campana retorna à terra onde cresceu para realizar a maior empreitada de sua carreira e da do irmão Fernando: um parque capaz de revolucionar conceitos de arte, educação e sustentabilidade
O Parque Campana surge nos arredores de Brotas, em um sítio de 78 hectares herdado pelos irmãos. “Um lugar com programas educacionais usando o design como ferramenta de transformação social” define Humberto. A proposta é oferecer um espaço cultural e educacional com 12 pavilhões a céu aberto, unindo arte e ciência.
Os irmãos Campana
Humberto e Fernando Campana (1961-2022), os Irmãos Campana, conquistaram o mundo com uma verve transgressora, materializada na linguagem disruptiva e de forte viés artístico de suas criações.
Os dois quebraram barreiras na cena do design ao subverter objetos, transformando materiais cotidianos em móveis, luminárias, esculturas e peças de múltiplos apelos. Sempre transitaram pelo natural, industrial, chic, barroco ou o vernacular, profundamente enraizado na cultura e nas tradições brasileiras, de forma orgânica.
Cedo os irmãos souberam que tinham esse dom para inventar narrativas desconcertantes. Ainda crianças, em Brotas, onde viviam, já deixavam a imaginação ir longe na construção de diques, casas na árvore, naves espaciais, circos, trapézios, teatros e mil outras ideias, sempre com pedaços de madeira, cipós, galhos e o que mais encontrassem nas redondezas – o que, mais tarde, influenciou o gosto deles em especial por tudo o que é natural, como a palha, o vime, o barro e a fibra de coco. Já nessa época a identidade do Estúdio Campana, criado pela dupla nos anos 1980, dava seus primeiros sinais.
Os irmãos Campana são reconhecidos internacionalmente por seus trabalhos, cuja temática discute elementos do cotidiano transformados em peças de caráter artísticos. Eles são uns dos poucos profissionais brasileiros com peças no acervo do MoMA, em Nova York.
