Histórias de empreendedores paraibanos inspiraram os participantes na abertura da segunda edição do NordesteOn. Maria Júlia Baracho, do Parque Engenho Triunfo, Renato Rodrigues, da Softcom, e Luciana Balbino, do Restaurante Vó Maria, contaram suas trajetórias recheadas de emoção e cumplicidade no painel “Empreendedorismo, Inovação e Sustentabilidade construindo o futuro”.
A primeira história é marcada por uma sucessão de erros na produção da que hoje é a melhor cachaça de Areia, no Brejo Paraibano. Em 1994, quando a cachaça ainda era considerada “bebida de pobre”, o marido de Maria Júlia, Antônio Augusto, usou R$ 15 mil provenientes da venda de uma propriedade herdada para fazer cachaça. Moenda e alambique adquiridos, Antônio se arriscou na confecção do produto que Maria Júlia provava. “Foram várias tentativas e, em todas, a bebida era intragável. Até que um “santo professor” apareceu. O nome dele era Fernando Valadares, do Sebrae-PB, e sua disciplina? Produção de cachaça de qualidade”, relembra a bem-humorada Maria Júlia.
Bebida devidamente provada e aprovada, começou a peregrinação para conquistar mercado. “Ia de porta em porta oferecendo o produto. E nessa peregrinação chegamos a vender 250 mil garrafinhas por mês. Em 2005, abrimos o engenho para o turismo, contribuindo para o desenvolvimento da nossa cidade e gerando dezenas de empregos diretos e indiretos”, afirma a empreendedora.
Em março deste ano, um acidente passou a integrar a história da Triunfo: um incêndio destruiu um galpão que armazenava 100 mil litros da bebida. Em cima dele, funcionava o setor de engarrafamento que teve todas as máquinas e vasilhames destruídos. “Foi muito triste e, ao mesmo tempo, muito bonito. Para conseguir voltar a produzir, recebemos a apoio de outros produtores que nos cederam vasilhames e máquinas. É nesse empreendedorismo, que pensa no coletivo, que acreditamos”, avalia Maria Júlia.
Tecnologia e comunidade rural
As outras duas histórias inspiradoras reúnem aspectos tão díspares como tecnologia e vida no campo. No caso da Softcom, do empresário Renato Rodrigues, o negócio nasceu em 1999, numa sociedade ainda analógica, e tinha como proposta converter planilhas de excel em softwares para pequenas empresas. Batizado de “Sistemas Abertos”, a ferramenta logo ganhou um apelido: “planilha do Renato”. “Esse equívoco na escolha do nome me ensinou que ter uma marca é como ter um sobrenome. E, desde então, para mim, erro é aprendizado e problema é oportunidade”, afirma o empresário.
Hoje, a Softcom tem 25 mil clientes, 12 unidades próprias, 500 colaboradores e mais de 50 franqueados, sendo que 50% são ex-funcionários. “Incentivo o empreendedorismo porque acredito na capacidade dos nossos colaboradores em contribuir com o negócio. Há 14 anos, temos um indicador de Ideias para reunir as sugestões do nosso pessoal para melhorar nossa atividade. E, mesmo depois de tanto tempo, esse indicador não caducou”, comemora.
A gestão participativa de negócios também foi a preocupação da líder comunitária Luciana Balbino. Moradora da comunidade Chã de Jardim, a 120 quilômetros de João Pessoa, Luciana desejava criar oportunidades para fixar as pessoas na região. “Sentia que podíamos criar nossas próprias formas de sustento e a primeira iniciativa foi reabrir uma fábrica de polpa de frutas desativada. Depois, vieram as trilhas ecológicas pelo Parque Estadual do Pau Ferro, o artesanato local feito com a palha da bananeira, as oficinas de artesanato, o piquenique na mata e, finalmente, o Restaurante Rural Vó Maria, com 80 lugares e panelas, talheres e louças emprestados, e a hospedaria”, relembra. É o chamado de turismo de base comunitária que estimula o surgimento da economia circular e desenvolve toda a região. Atualmente, o empreendimento iniciado por Luciana tem 20 pequenos negócios e o restaurante com 320 lugares serve até 900 refeições por dia. A intenção é aumentar o número de barracas e de chalés. Alguém duvida da mulher eleita como uma das 100 mais poderosas do agronegócio pela revista Forbes?