Hábitos da terceira idade: pesquisa revela perfil de consumo da geração prateada

Levantamento aponta que 81% das pessoas com mais de 60 anos compram em lojas virtuais

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A aposentada Renata Henze, de 62 anos, faz compras on-line, mas não deixa de ir a lojas físicas — Foto: Acervo pessoal

A aposentada Renata Henze, de 62 anos, costuma comprar no ambiente virtual, especialmente produtos que não são facilmente encontrados em lojas físicas. E ela não é um exemplo isolado em sua faixa etária. De acordo com uma pesquisa feito pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 81% dos consumidores com mais de 60 anos de idade já fazem compras on-line.

As principais motivações para o consumo em lojas virtuais vão desde a conveniência de comprar a qualquer hora (67%) até a facilidade para encontrar produtos (56%). Para a aposentada, a compra on-line é um facilitador, mas nem por isso ela deixa de ir ao comércio tradicional.

— Comprar on-line facilita, pois não preciso me deslocar para isso. Mas, de vez em quando, eu gosto de sair e ir a uma loja — confirma.

Eduardo Terra, presidente da SBVC, diz que, por ser uma jornada “fácil e acessível”, a compra on-line ganhou a adesão da chamada geração prateada. Ele destaca que, em especial, a população na faixa dos 60 aos 69 anos tem a essência do consumidor brasileiro.

— Aqueles fatores eventualmente ligados ao que chamamos de terceira idade não aparecem muito quando falamos dos 60+. Quando olhamos para esse grupo, aparece bem a essência do que é o consumidor. Ele quer ser bem atendido e ter preços competitivos — diz.

Quando se trata de consumo virtual, o estudo indicou que a compra on-line diminui com o passar da idade. Ainda assim, 65% dos consumidores na faixa dos 80 anos ou mais já compraram em lojas on-line, enquanto entre os 60 a 69 anos esse percentual foi de 88%, e para a faixa dos 70 a 79 anos, de 76%.

Gisela Castro, professora da pós-graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), avalia que, se por um lado o e-commerce facilitou a vida de muitos idosos, por outro, ainda há muito o que evoluir.

— Precisamos melhorar as rotinas e procedimentos no ambiente digital para que sejam de fato amigáveis para as pessoas no seu próprio ritmo e na sua desenvoltura no ambiente digital — avalia.

A professora acrescenta que, antigamente, os hábitos de consumo eram marcados pela idade, “existiam roupas para crianças, roupas para adolescentes, roupas para adultos, roupas para pessoas mais velhas”. Hoje, diz ela, esses hábitos “estão mais elásticos e flexíveis”.

Em relação aos principais serviços e produtos comprados on-line, a SBVC indicou um aumento em serviços de transporte (81%), roupas, calçados e acessórios (68%), medicamentos (63%), produtos estéticos/bem-estar (55%) e lazer (50%).

Nas compras virtuais, para 71% do grupo 60+, o preço é o principal influenciador. Na sequência, aparecem a clareza dos sites (53%) e a segurança (50%) do e-commerce. Para Renata Henze, compras on-line são uma forma de encontrar itens mais em conta.

— Acho que é mais fácil encontrar produtos mais baratos. Agora mesmo eu vi um tênis que tem meu número e por um bom preço — diz.

Compra ‘olho no olho’ tem valor

Apesar do alto percentual de pessoas com mais de 60 anos fazendo compras on-line, há quem prefira o tradicional “olho no olho” na hora de adquirir um produto. É o caso da professora de educação especial Agardenia Esteves, de 63 anos. A principal razão para não comprar pela internet é o receio de cair em golpes:

— Eu sou uma pessoa de outra geração. Sei que isso não impede nada, porque tem gente da minha idade que navega muito bem na internet. Mas eu não navego. Aprendo somente o essencial para trabalhar. Tenho medo de clicar em um botão e ir para algum lugar onde há uma pessoa mal-intencionada.

Assim como a professora, entre os consumidores 60+ que não compram on-line, as razões citadas incluem falta de segurança para informar dados bancários (52%) e falta de conhecimento sobre sites confiáveis (35%). No entanto, não é o medo a principal motivação para ir à loja física, mas sim o “tocar e sentir” (55%).

Eduardo Terra, presidente da SBVC, diz que essa não é uma característica só dos idosos, pois tem relação com a essência do brasileiro de apreciar a jornada da compra.

— Existe uma jornada física de experiência, descoberta, exploração, informação, de toque, que ainda fascina muita gente. Isso não é diferente para os jovens — diz.

De acordo com o público 60+, as grandes filas nos caixas são o maior ponto negativo nas compras em lojas físicas. Virgínia Patrocínio, docente da Estácio e mestre em Comunicação e Consumo, cita que esse grupo tem como característica mais marcante “a preocupação em estabelecer vínculos mais duradouros e as relações interpessoais mais profundas”. Para Agardenia, esses fatores fazem diferença.

— Eu amo o calor humano, porque sou uma pessoa que gosta de conversar, de estar com os vendedores, que são pessoas muito importantes na experiência da compra. Eu vejo que na internet tem essa distância maior. Não gosto, acho uma coisa muito fria para mim — afirma.

Maior poder aquisitivo

O Censo 2022 mostrou que o número de brasileiros com mais de 65 anos cresceu 57,4% em comparação com 2010. Em relação às pessoas com mais de 80 anos, elas já correspondem a 4,6 milhões. Na amostra analisada pelo estudo da SBVC, 52% dos participantes recebiam aposentadorias, 14% tinham empregos informais e outros 14% tinham carteiras assinadas. Para a docente da Estácio, esse é um público com maior poder aquisitivo:

— O público 60+ tem uma vida mais ativa e um poder aquisitivo maior, o que faz dele um público potencial para empresas que buscam criar laços afetivos e duradouros com os consumidores — diz Virgínia Patrocínio.

Eduardo Terra, da SBVC, acredita que as empresas estão entendendo esse cenário e já estão começando a buscar soluções para atender esse público. Mesmo com a expansão do comércio digital, ele aposta que as lojas físicas continuarão existindo:

— As lojas virtuais estão usando soluções que vão desde letras maiores até lojas mais intuitivas. Não vejo as lojas físicas deixando de existir, porque muito do que existe no e-commerce é abastecido a partir das lojas físicas.

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