Exportações brasileiras crescem em março, mas guerra comercial EUA-China traz um novo cenário

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A Balança Comercial brasileira fechou março com um superávit de US$ 8,2 bilhões, resultado que reflete uma recuperação frente ao mês anterior, quando houve déficit comercial de US$ 323 milhões. As exportações somaram US$ 29,2 bilhões, um crescimento de 5,5% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as importações atingiram US$ 21 bilhões, avanço mais modesto de 2,6%. As tensões comerciais causadas pelo tarifaço de Trump trazem muitas possibilidades ao Brasil nesse cenário ainda em desenvolvimento.

O desempenho das exportações em março foi impulsionado principalmente pelo setor agropecuário, que registrou expansão de 16%, alcançando US$ 8,2 bilhões. A soja liderou as vendas externas do agronegócio, com US$ 5,7 bilhões, seguida pelo café não torrado, que surpreendeu com alta de 92,7% (US$ 1,4 bilhão). Já a indústria de transformação também contribuiu positivamente, com crescimento de 10,1% (US$ 15,3 bilhões), seus destaques incluem a carne bovina (+40,1%) e a celulose (+25,4%). Por outro lado, a indústria extrativa enfrentou dificuldades, com retração de 15,3% (US$ 5,5 bilhões), puxada pela queda nas vendas de minério de ferro (-16,5%) e petróleo bruto (-20,3%), devido aos preços menos favoráveis.

No que diz respeito aos destinos das exportações, a China manteve-se como principal parceiro comercial, com US$ 9,3 bilhões, um aumento de 10,9% e representando 32% do total exportado no mês de março pelo Brasil. A União Europa apresentou crescimento significativo de 18,7%, especialmente pela demanda por commodities agrícolas. Já as vendas para os EUA caíram 13,3%, reflexo das barreiras comerciais ao aço e alumínio. O Canadá teve forte alta de 57,8%, talvez desviando o comércio por conta da barreira dos EUA.

Nas importações brasileiras de março, que totalizaram US$ 21 bilhões (+2,6%), observou-se maior demanda por bens intermediários (+10,1%), como fertilizantes e peças automotivas, essenciais para a indústria nacional. Os bens de capital, embora tenham crescido 4,7%, permaneceram abaixo do esperado, indicando queda nos investimentos. E a redução de 26,9% nas importações de combustíveis foi consequência de uma queda de 15,7% no preço, mas também de 13,3% do volume importado.

A China também se manteve como principal origem das importações, 24,1% do total e um crescimento de 9,1% em relação ao ano anterior, com destaque para produtos eletrônicos e químicos. Os EUA, por sua vez, aumentaram suas vendas para o Brasil em 17,6% e são o segundo maior fornecedor com 16,8% do total importado, impulsionadas por máquinas e equipamentos industriais. Em contraste, as compras do Mercosul caíram 13%, com a Argentina registrando queda de 17,5%.

O comércio com os EUA e a China, os dois maiores parceiros do Brasil, merece atenção especial. Com os EUA, as relações comerciais ganharam novo fôlego após a imposição de tarifas menores sobre produtos brasileiros, em comparação com outros países. Enquanto nações como China e Vietnã enfrentam taxações de 67% e 90%, respectivamente, foi adotada uma alíquota de apenas 10% para o Brasil. Isso pode abrir espaço para que as exportações brasileiras ganhem competitividade no mercado norte-americano, especialmente em setores onde a concorrência direta com produtores asiáticos foi reduzida. 

No caso da China, a situação é mais complexa. Enquanto mantém seu posto como principal destino das exportações brasileiras, especialmente para commodities, a desaceleração econômica chinesa já impacta setores como soja, minério de ferro e petróleo. Essa dependência brasileira de um único grande comprador se soma à nossa vulnerabilidade nas importações de manufaturados chineses, que devem ser intensificadas com a guerra comercial com os EUA. Por sua vez, a escalada tarifária entre EUA e China torna os produtos brasileiros cada vez mais competitivos para entrar na China. Na realidade, nos dois países.

O governo federal projeta um superávit comercial de US$ 70,2 bilhões para 2025, uma retração em relação aos US$ 74,2 bilhões do ano anterior. Essa estimativa ainda não incorpora plenamente os efeitos das novas tarifas internacionais e dos possíveis desdobramentos de uma guerra comercial. Se o Brasil souber aproveitar as oportunidades criadas pela menor tributação dos EUA e, ao mesmo tempo, diversificar seus mercados para reduzir a dependência da China, poderá não apenas manter o saldo positivo, mas também fortalecer sua posição no comércio global. A diversificação é importante porque, num outro cenário, EUA e China podem fazer um acordo comercial preferencial, deixando o Brasil de fora, que traria graves consequências para as exportações brasileiras.

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Ecio Costa
Ecio Costa é economista pela UFPE, com Mestrado, Ph.D. e Pós-Doutorado em Economia pela University of Georgia. Atualmente é Professor Titular de Economia da UFPE e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral.