
Secretário do Tesouro americano e vice-premiê chinês fazem primeira reunião para discutir redução de tarifas e restrições de Pequim sobre minerais estratégicos
Autoridades dos e da passaram horas em reuniões fechadas em Genebra, na Suíça, este sábado, 10, no primeiro dia negociações entre as duas maiores economias do mundo para desescalar a guerra comercial. O secretário de Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, lideram as negociações previstas para durar dois dias em Genebra. Essas são as primeiras conversas presenciais publicamente divulgadas desde que impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Pequim retaliou com tarifas de 125% sobre itens americanos, além de novos controles de exportação sobre minerais de terras raras.
O representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, também participou das sessões, que começaram por volta das 11h, horário da Genebra — às 6h de Brasília. Após uma pausa para o almoço, os representantes dos países retomaram as discussões na missão suíça junto às Nações Unidas, segundo fontes próximas ao assunto, que pediram anonimato devido à sensibilidade das negociações. Ambos os lados tentam demonstrar confiança em manter a vantagem, mas o impasse atual traz grandes riscos.
A troca de tarifas tem abalado os mercados financeiros e ameaça causar escassez de produtos e aumento de preços para consumidores americanos, aumentando a pressão sobre Trump de encontrar uma saída para o impasse com Xi Jinping. O líder chinês buscou fortalecer a economia do país antes das negociações, mas os dados indicam sinais de fraqueza. A reunião na Suíça é um “passo importante para avançar rumo a uma resolução” do problema, enquanto uma solução definitiva exigirá paciência, determinação e apoio da comunidade internacional, afirmou a agência de notícia estatal chinesa Xinhua em nota divulgada durante as negociações. A agência também reafirmou a determinação da China em proteger seus interesses nacionais e manter a ordem no comércio internacional.
O presidente dos EUA tem enviado sinais contraditórios sobre o resultado desejado. Trump afirmou repetidamente que não está disposto a reduzir tarifas sem concessões chinesas, embora na última sexta-feira, dia 9, tenha sugerido que uma tarifa de 80% “parece adequada” . “Temos que fazer um ótimo acordo para a América — disse Trump a repórteres no Salão Oval na sexta-feira à noite. — Acho que vamos voltar com um acordo justo para a China e para nós. Na quarta-feira, Bessent minimizou qualquer expectativa sobre o resultado, dizendo aos legisladores que as negociações estavam em estágio inicial e o foco era diminuir as tensões, não fechar um acordo abrangente. Mas o próprio Trump disse na quinta-feira (dia 8) que esperava um progresso “substancial”. Outros funcionários americanos destacaram a oportunidade de aliviar o conflito.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou na Fox News na sexta-feira à noite que não há “qualquer chance” de as tarifas serem completamente suspensas, independentemente do resultado das negociações. Se forem bem-sucedidas, as tarifas “baixarão para um nível humano, um nível em que façamos negócios. Existem tarifas significativas, o presidente vai manter tarifas significativas no comércio com a China. Esse é seu objetivo. Essa é sua expectativa. Essa deveria ser a expectativa de todos.”
A China adota uma postura cautelosa, definindo expectativas baixas antes das negociações e encarando-as mais como exploratórias do que como propensas a um acordo imediato. Os representantes de Xi avaliarão o quão sérios são os americanos em buscar um avanço, disse Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan em Xangai e conselheiro do ministro das Relações Exteriores.
As duas economias, com um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 46 trilhões, têm muito a perder se as negociações fracassarem. Tarifas no nível atual podem eliminar 90% do comércio bilateral, segundo estimativa da Bloomberg Economics. Os efeitos da guerra comercial já são visíveis, indicando mais dificuldades econômicas caso não haja acordo. O volume de embarques da China para os EUA caiu. No país asiático, fábricas que produzem itens de consumo diário reduziram ou pararam as linhas de montagem. O comércio bilateral anual gira em torno de US$ 700 bilhões, e a China detém cerca de US$ 1,4 trilhão de investimentos em portfólio nos EUA. O conflito levou Pequim a ampliar o comércio com outros mercados, com exportações para os EUA caindo 21%. Enquanto isso, a economia doméstica chinesa enfrenta números fracos na manufatura e uma espiral deflacionária que provavelmente não melhorará, com a concorrência interna aumentando em meio a um mercado de trabalho fraco.
Embora a economia dos EUA continue estável, analistas alertam que a escassez de produtos começará a aparecer em prateleiras vazias nas próximas semanas e meses, ameaçando empregos, especialmente nos setores de transporte, logística e varejo. O Federal Reserve alertou para o aumento da incerteza. A economia americana contraiu no início do ano pela primeira vez desde 2022, embora um indicador de demanda subjacente tenha permanecido firme. As consequências da guerra comercial liderada pelos EUA reverberam globalmente. A Organização Mundial do Comércio (OMC) reduziu sua previsão para o comércio de mercadorias este ano, esperando agora uma queda de 0,2% — quase 3 pontos percentuais abaixo do que seria sem a guerra comercial. O Fundo Monetário Internacional, em abril, reduziu drasticamente suas expectativas de crescimento para este e o próximo ano, alertando que o cenário pode piorar.
Para Trump, um dos principais objetivos é reequilibrar o comércio. Ele reiterou na sexta-feira que quer ver a China abrir seus mercados para os EUA. Ele também tem sinalizado repetidamente que vê o acesso ao mercado americano como uma alavanca chave para forçar concessões. “Eles têm muito a ganhar” com as negociações, disse Trump a repórteres na quinta-feira. “Eles têm muito mais a ganhar do que nós, de certo modo.”
Mas a China vê as tarifas como apenas um aspecto de uma estratégia mais ampla dos EUA para limitar seu crescimento. Para Pequim, o conflito não é apenas uma guerra comercial, disse Regina Ip, parlamentar de Hong Kong. Ela disse que a guerra ameaça a própria sobrevivência da China. “A China está determinada a enfrentar isso, ‘não se ajoelhar’. Eles estão adotando uma linha muito dura”, disse ela. Mas alertou: “Ambos os lados devem jogar suas cartas com muito cuidado. Devem agir com cautela para não escalar o conflito.” Mesmo uma semana antes das negociações, Washington e Pequim trocavam acusações sobre quem as havia iniciado.
Uma prioridade dos EUA antes das negociações era garantir o afrouxamento das restrições chinesas à exportação de terras raras usadas na fabricação de ímãs para robôs e motores a jato. O governo Trump também quer que a China combata o tráfico de fentanil, bloqueando o fluxo de materiais usados para fabricar o opioide. No entanto, avanços nessa questão podem ocorrer em um canal separado, fora das negociações em Genebra. A China afirmou que tem reprimido com rigor o comércio de fentanil e chegou a dizer que Washington lhe deve um “grande agradecimento” por seus esforços.
Essas negociações em Genebra são vistas como uma tentativa de reduzir as tensões da guerra comercial, não de resolvê-la completamente, com esperança de que as tarifas elevadas impostas por ambos os lados sejam reduzidas, aliviando os mercados financeiros globais e as empresas dependentes do comércio entre EUA e China.