Sexta-feira, 5h30 – Largo da Gameleira – João Pessoa, PB
O céu estava claro, mas o sol era apenas uma ameaça. Com certeza, pelo que sabemos do clima na Paraíba, a temperatura iria esquentar. Espero o grupo que seguirá para três dias rodando cinco cidades do interior na região do Curimataú. Nesses 14 anos vivendo na Paraíba, nunca estive em nenhuma delas. O mais perto que cheguei desses destinos nas minhas andanças foi em Campina Grande (esse caminho sei de cor!) e o mais longe Souza!
É uma oportunidade de “desbravar sertões”, como dizem há séculos, ou de ver de perto o que, até hoje, só conhecia de ouvir ou por retratos. Integro uma turma de cerca de 20 pessoas formada, basicamente, por agentes de viagens que vão conhecer o novo roteiro turístico construído pela PBTur e pelo Sebrae: a Rota do Cactos.
E eles – os cactos – estão por toda parte! Impressiona como, ao entrar na região, eles são presença constante e marcante. Formatos, tamanhos, em grupos, solitários… Assim como as palmas forrageiras – delas falaremos mais para frente.
Primeira parada: “Algodão de Jandaíra – Trilha das Muralhas”.
Muralhas? A explicação surpreendente, recheada de mistérios, lendas urbanas e pesquisas científicas vêm enquanto cumprimos uma sequência de entra-e-sai da van, fotografias, caminhadas, subidas e descidas. Elas são dadas pelo Pastor João Batista, condutor treinado e orientado pelo Sebrae e pela PBTur. As muralhas são fáceis de identificar: paredões de pedras empilhadas rodeiam a pequena cidade de 6 mil habitantes. Aqui, ali, acolá e até a onde a vista alcança, elas estão presentes, devidamente marcadas por inscrições rupestres, comprovadas cientificamente.
A lenda: uma civilização fenícia teria ocupado nosso território 400 anos antes da chegada dos portugueses e construído esses muros para proteger seus cidadãos. A ciência: para o geógrafo e pesquisador Vanderley de Brito, de Campina Grande, as estruturas foram formadas por “lâminas de arenito espalhadas em afloramentos rochosos”. Que pena…
Segunda parada: “Algodão de Jandaíra – terra dos gigantes”.
Na face leste da Pedra do Caboclo, uma formação rochosa cercada (de novo!) por cactos de todos os tamanhos e cores, um cemitério indígena com ossos humanos descomunais foi encontrado em 1874 pelo capitão do Exército, João Lopes Machado. Os guerreiros nômades, de estatura elevada e cabelos longos – com mais de um metro de comprimento, lutaram contra os invasores holandeses. Eram os Tarairús que, segundo estudos conduzidos pelo pesquisador Lenin Campos Soares, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tinham uma cultura recheada de ritos realizados por seus pajés. O uso do tabaco para defumações era o principal. Além da erva, a cura era buscada com a provocação de vômitos para limpeza estomacal e escarificações cutâneas para permitir que os maus espíritos, que estavam causando as doenças, saíssem do corpo do adoentado. Caso reconhecessem que a cura era impossível, a eutanásia era aplicada. Eram adeptos também do chamado endocanibalismo, ou seja, eles comiam os membros da própria tribo. Os ossos dos falecidos, como também seus cabelos, depois de secos no Sol, eram cozidos no fogo e depois pulverizados no pilão. E agora? Pra quê cemitério?
Amanhã tem mais.
Nota: A repórter viajou a convite da PBTur e do Sebrae.
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