Entendendo melhor os investimentos no Polo Turístico Cabo Branco e seus impactos

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Imagem 3D de como será o Polo Turístico Cabo Branco (Cinep)

O turismo é transformador. Quando bem explorado, pode fazer com que seus efeitos multiplicadores sejam sentidos em diversos setores produtivos, desde o setor de serviços, com mão de obra e prestadores de serviços de baixa até alta complexidade em especialização, passando pela indústria, que inclui construção civil, moveleira, de máquinas e equipamentos, e até mesmo no agronegócio, com o fornecimento de alimentos e bebidas, in natura e processados.

Há diversos exemplos nacionais e internacionais de destinos turísticos que modificaram econômica e socialmente a realidade de regiões. Internacionalmente, Portugal pode ser citado, como um destino onde mais de 30 milhões de turistas visitaram o país, sendo 18 milhões de estrangeiros, para uma população de 10,5 milhões de habitantes. No Brasil, Porto de Galinhas está inserido em Ipojuca, com uma população de 97 mil habitantes, 15 mil leitos e fluxo de 1,2 milhão de turistas/ano. Gramado, por sua vez, com 40,1 mil habitantes e 23 mil leitos, recebe 8 milhões de turistas/ano.

João Pessoa está se encaminhando para uma profunda transformação econômica no setor turístico nos próximos anos. Obras de 2 parques de diversões, sendo um seco e outro aquático, e de 5 resorts estão encaminhadas com inaugurações para acontecer no curto prazo. Os investimentos passam dos R$ 2 bilhões, com incremento de 11.000 leitos e diversas atrações de novos negócios para o Polo Turístico Cabo Branco, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba (CINEP).

Usando os dados mais recentes do IBGE e a projeção de novos leitos desses investimentos, o resultado aponta para um crescimento da oferta de leitos de quase 100% em João Pessoa. O fluxo de turistas pode também quase dobrar, trazendo turistas para os novos resorts, mas também para o day use dos parques, deslocando para o seu local de origem ao final do dia. O impacto será sentido em outros municípios próximos à João Pessoa, mas transbordará para capitais vizinhas, como Recife e Natal.

Com os investimentos nesse novo perfil de hotelaria, com resorts que ofertam mais luxo, estadias mais prolongadas e tickets médios mais altos, os gastos dos turistas nos resorts e em seu entorno, bares, restaurantes, shopping centers e atrações turísticas será incrementado, igualando o perfil desses visitantes ao daqueles que frequentam destinos mais reconhecidos no país.

Esses investimentos e o fluxo de turistas e negócios vão exigir uma infraestrutura a ser desenvolvida para atender o aumento considerável no fluxo de carros nas rodovias, passageiros em aeroporto, oferta de serviços, como restaurantes e bares, bem como a implantação de novos negócios fornecedores de produtos e serviços voltados para a hotelaria e os elos dessa cadeia produtiva.

A infraestrutura necessária para atender os picos de movimentação de turistas em períodos de maior fluxo é fundamental. Duplicação de rodovias, investimentos em novas rotas e vias são peça-chave para manter o tempo de deslocamento baixo e garantir um turista satisfeito. O mesmo se repete com o aeroporto de João Pessoa. Ampliação é necessária para atender esse fluxo crescente, com novas negociações de rotas que passem pelo destino.

O Polo já contempla dois investimentos em infraestrutura importantes: o Boulevard dos Ipês, um centro comercial para trazer o comércio local mais próximo aos turistas que queiram comprar produtos locais e encontrar alternativas aos resorts; e, um Polo gastronômico, com opções variadas de alimentação.

O planejamento para os investimentos estruturadores é fundamental para que o desenvolvimento econômico venha atrelado às oportunidades que se apresentam. O investimento em mão de obra qualificada, por exemplo, é essencial. É preciso estudar o mercado de trabalho atual e como ele deve se configurar para comportar as novas demandas que surgirão, capacitando antecipadamente a mão de obra local, para evitar a importação de trabalhadores de outros estados. A facilitação para a implantação de novos negócios, reduzindo a burocracia, através da Lei de Liberdade Econômica, vai induzir a implantação de novas empresas, de menor porte, que possam atender os grandes investimentos que estão se implantando. Por fim, entender melhor as potencialidades desses arranjos produtivos locais e identificar novas oportunidades de adensamento da cadeia produtiva do turismo vão poder trazer um efeito multiplicador de renda, empregos e PIB na economia da região.

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Ecio Costa
Ecio Costa é economista pela UFPE, com Mestrado, Ph.D. e Pós-Doutorado em Economia pela University of Georgia. Atualmente é Professor Titular de Economia da UFPE e Professor Convidado da Fundação Dom Cabral.