A maison francesa apoia empreendedoras de negócios de impacto social e ambiental e a marca de sandálias veganas da Under 30, criada por Isabela Chusid é um dos destaques deste ano.
A brasileira Isabela Chusid, Forbes Under 30 e fundadora da Linus, primeira sandália de plástico vegano nacional, é uma das vencedoras do Cartier Women’s Initiative, prêmio global voltado a empreendedoras de negócios de impacto social e ambiental, deste ano. “Estou muito feliz e honrada, primeiro por ter tido a chance de passar essa última semana com mulheres tão inspiradoras, mas ainda mais por mostrar a nível global que negócios de impacto e com propósito podem ser lucrativos”, diz a empresária, diretamente de Shenzhen, na China, onde aconteceu a premiação nesta quarta-feira (22).
Isabela ficou em 2° lugar na categoria América Latina e Caribe da premiação, que também homenageou com o 1º lugar a peruana Marlene Molero Suàrez, fundadora da Elsa by Gender Lab, que ajuda empresas a prevenir o assédio sexual no ambiente de trabalho. E, em 3º, a colombiana Mercedes Bidart, criadora da Quipu, plataforma que facilita o acesso de microempresas a crédito.
Brasileiras premiadas pela Cartier
Criado em 2006, o Cartier Women’s Initiative Awards, programa global da maison francesa, seleciona e premia mulheres empreendedoras de diferentes países e setores à frente de negócios de impacto social, ambiental e econômico. “Nos últimos anos, tivemos ao menos uma brasileira entre as finalistas”, diz Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude, plataforma de saúde mental para empresas, e premiada pela iniciativa da Cartier em 2019 na categoria América Latina e Caribe.
História da Linus
Morando em Berlim, Isabela Chusid parou uma mulher na rua para perguntar onde ela havia comprado sua sandália. “No Brasil”, respondeu a moça, que usava uma Linus, a marca de sandália vegana criada por Isabela há cinco anos.
O sapato foi comprado aqui, mas hoje está presente também em mais de 350 pontos de vendas físicas – dentro e fora do Brasil. Desde 2021, a Linus mira sua expansão global: já chegou a Portugal, Espanha e desembarca agora no Chile, Peru, Austrália e Nova Zelândia.
Isabela captou o interesse dos estrangeiros pela sua marca por meio de uma plataforma que rastreia os acessos ao e-commerce. “Tinha muita gente da Europa de modo geral, mas principalmente da Península Ibérica, por conta da facilidade da língua”, lembra ela, que começou a se mexer para atender a demanda.
Revenda em Portugal
Antes de abrir o site internacionalmente, testou uma parceria com lojas em Portugal e entendeu o que mais atraía os estrangeiros. “O fato de ser brasileiro ainda é algo exótico, as cores trazem um ar de brasilidade e a questão da sustentabilidade chamou a atenção.”
A empreendedora fez parte da lista Forbes Under 30 em 2018, que destaca os jovens mais promissores em suas áreas. “A lista dá uma chancela. As pessoas passaram a me levar mais a sério”, diz Isabela sobre a repercussão.
Isabela está à frente das áreas de marketing, comercial, produto e cultura. Mas também participa dos processos de perto e coloca a mão na massa quando necessário. “Isso é muito importante em termos de cultura, porque motiva o time”, diz ela, que lidera uma equipe de 25 pessoas, sendo 21 mulheres.
O sucesso do negócio também a levou à Cúpula das Américas, evento que reúne chefes de Estado do continente, em 2022, na Califórnia. E a exposição internacional ajudou no avanço da expansão. “Acredito muito no ‘boca a boca’. Temos 140 países acessando o site e não temos anúncios rodando no mundo inteiro”, afirma.
O e-commerce é acessado por pessoas de países tão diversos quanto Japão, Trinidad e Tobago e Índia, de onde chegam mensagens enviadas por pessoas que conheceram a marca por meio de brasileiros que fazem parte de comunidades de ioga.
Crescimento com um único produto
Com um único modelo e uma identidade de marca voltada para o público jovem, Isabela captou uma comunidade de clientes que buscam produtos sustentáveis com design. O preço também conta, já que a Linus é uma releitura da [alemã] Birkenstok, feita de cortiça e couro, mas que custa o triplo do preço.
No Brasil, além da loja física própria em São Paulo, a Linus tem parceria com a marca de roupas de praia Cia. Marítima, com a Austral, e com as lojas da Imaginarium. Nessas, vende cores exclusivas. “É um produto de baixa complexidade, que não quebra, não vence e não troca coleção. Por isso os investidores curtem e vêm falar com a gente”, diz a empreendedora, que, apesar de nunca ter captado, já foi procurada por pessoas interessadas em fazer sociedade.
Das multinacionais ao negócio próprio
Os negócios sempre estiveram presentes na família. Desde cedo, viu os avós e os pais tocando seus empreendimentos. Mas depois de se formar em administração e fazer estágio e programa de trainee em multinacionais, pensou em seguir a carreira corporativa, mas não por muito tempo. “Sofri muito, sentia que não me encaixava.”
A empreendedora queria trabalhar com sustentabilidade, mas ainda não sabia como. “Sempre fui a ‘eco chata’ da família”, diz ela que, aos cinco anos, após uma aula na escola, ajudou a implementar uma política de reciclagem no seu prédio.
Depois de buscar – e não encontrar – sandálias específicas para uma condição médica que tinha, decidiu criar a sua própria. Aos 23 anos e com um investimento inicial de R$ 50 mil, de economias próprias e ajuda da família, produziu um primeiro lote com 900 pares.
A Linus é feita com um tipo de PVC que substitui lubrificantes de origem animal ou fóssil por produtos de origem vegetal, o que se traduz em mais de 70% de fontes renováveis e inesgotáveis. “Não inventei a roda, mas estava disposta a abrir mão de um pedaço da margem para conseguir chegar numa matéria prima melhor.”
A empresa, que é certificada pela organização britânica The Vegan Society, começou compensando suas emissões de carbono, que hoje são negativas.
Fonte: Forbes