Do quarto para a automação; conheça a trajetória de Jeferson Camboim

Filho de pai paraibano da zona rural de Patos e de mãe baiana, desde a infância ele encontrou na tecnologia algo que transformaria sua vida

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Jeferson Camboim, CEO e diretor técnico da I am Connection, em São Paulo e João Pessoa. (Foto: Reprodução)

O Paraíba Business entrevistou Jeferson Camboim, CEO e diretor técnico da I am Connection, uma empresa de soluções de tecnologia de áudio, vídeo e automação residencial, com unidades em São Paulo e João Pessoa.

Nascido em São Paulo, na região de Interlagos, Jeferson é filho de pai paraibano da zona rural de Patos, e mãe baiana. Desde a infância, encontrou na tecnologia algo que transformaria sua vida.

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Ele se descreve como um entusiasta, não como um nerd, que dedica longas madrugadas de estudo até hoje. Desde os nove anos, está imerso no mundo da automação e expressa o desejo de explorar cada vez mais a fundo esse universo. “É o meu universo e acredito que minha maior universidade tenha sido o meu quarto”, afirma.

Técnico de som e cantor com apresentação no Memorial da América Latina, ele também é criador de uma linha de poltronas inteligentes e de um aplicativo de eventos com leitor facial. Além disso, é desenvolvedor de redes de impacto, como o projeto que devolveu autonomia a uma pessoa tetraplégica em sua residência, utilizando o movimento da íris. Tudo isso no auge dos seus 31 anos.

Confira a entrevista na íntegra:

Jeferson, desde os nove anos nesse universo? Nos conte um pouco mais sobre a sua infância.

O menino Jeferson com 9 anos ganhou um livro de Física do pai. E ali eu comecei a estudar, adorei física, pirei. Eu falei: que negócio sensacional, montei meu primeiro motorzinho, pus dois ímãs e fiz aquele negócio girar. Uau, corrente alternada. Desde esse dia, mergulhei nesse mundo.

Quando eu tinha 11 anos, montei automação no meu quarto. Eu lembro que tinha um sensor que eu arranquei de um brinquedo e linquei no órgão que meu pai havia me dado aos seis anos de idade. O que foi que eu fiz? Esse sensor, quando a minha mãe entrava no meu quarto e eu não estava, tinha uma gravação que saía nas caixas de som desse meu órgão, dizendo: “mãe, sai do meu quarto, mãe, sai do meu quarto”.

Minha mãe queria me matar… (risos) Eu pegava os ferros de solda no carro do meu pai, que sempre trabalhou com obra. E basicamente a minha vida foi enfurnada naquele quarto, criando coisas, desenvolvendo produtos, desenvolvendo ideias daquilo que eu acreditava.

Dá pra ver o quanto seus pais contribuíram, te estimularam de alguma maneira…

Passaria horas falando deles. A minha mãe é baiana e meu pai é paraibano. Eu nasci na região de Interlagos. Não era uma comunidade, mas um bairro simples.

Desconheço alguém com a sabedoria dos meus pais. Minha mãe tem até a sétima série. Ela foi babá do Eduardo Saverin, o cara do Facebook que todo mundo conhece. O meu avô paterno no Sertão da Paraíba tinha apenas um sítio. Aos 18 anos, meu pai decidiu morar em São Paulo e começou a trabalhar como empreiteiro desde muito jovem.

Após um primeiro casamento, ele conheceu minha mãe. Com uma mente empreendedora, ele entrou para uma empresa do ramo da construção civil e chegou ao cargo de gerente. Quando a empresa faliu, decidiu abrir o seu próprio negócio e assumiu a manutenção dos prédios que havia construído. Essa jornada da construtora para o seu empreendimento particular demonstra a determinação e a visão de futuro do meu pai.

Hoje os dois moram no paraíso, em João Pessoa.

Seu pai chegou na selva de pedras, mas não deixou se intimidar.

Ele é fora da curva. Meu pai sempre com a cabeça da verticalização já pegou o quarteirão inteiro, subiu um prédio com quatro casas, uma em cima da outra, alugou… Visionário, apesar de ter só até a quarta série.

É o cara mais inteligente que eu conheço. Eu lembro que ele fazia as obras do engenheiro que construiu o Museu de Arte de São Paulo (MASP), eu amava escutá-los conversar. Ele acabou adquirindo o que hoje chamaríamos de mailing, com pessoas intelectuais.

O cara da quarta série desapareceu e entrou esse cara que conversa muito bem, que tem uma visão de mundo completamente diferente. Nunca vou esquecer quando eu fiz a minha primeira loucura como empresário, moleque, tá? Moleque. E eu fui contar pra ele, aí falou assim pra mim, “isso pode dar muito ruim na sua vida, que você nunca vai conseguir reparar, só que se você não fizer, você é um fraco”.

Como a I am Connection começou?

A I am existe desde 2011. Era a I am Sound e a minha esposa, Patrícia, engenheira de telecomunicações, sócia, já participou de projeto de carros inteligentes da Jaguar Land Rover, primeiro projeto de cidade inteligente do país, enfim, ela contribuiu muito.

A I am inicialmente era focada na parte de áudio. Temos um histórico de projetos em catedrais religiosas, incluindo a Catedral de Brasília e a Catedral de Niterói. O principal foco da empresa era a automação de som em igrejas.

A minha formação, que eu prefiro “intitular” é técnico de som, tenho certificação internacional, mas sem glamour. Sempre gostei de estudar, mas o modo da academia nunca fez sentido pra mim. Abrange muitas coisas, mas ainda vejo que é superficial.

O áudio chegou primeiro na automação, então?

Lunara, tem mais uma coisa: sou cantor profissional formado em Canto Popular. Sempre me envolvi com a música e a igreja nos dá acessos. Acesso ao som, ao palco, então fui desenvolvendo.

Já tive a oportunidade de cantar em locais renomados como a Sala São Paulo e o Memorial da América Latina. Além disso, atuei como professor de canto, tendo inclusive 120 alunos na Paraíba. Muitos cantores conhecidos de barzinhos foram meus alunos. Minha vida é bastante movimentada e interessante, pois tudo está interligado. E eu gosto disso aqui, Lunara, conversar, trocar com pessoas diferentes.

A música e a engenharia de som desempenham um papel central, especialmente na área de automação residencial.

Que interessante! Diante dos projetos realizados, da procura, de estar em um dos maiores mercados do mundo… O que te faz diferente?

Eu não crio produtos para vender. Eu crio experiência porque eu venho da arte. Sou arte com tecnologia, então a minha ideia é criar experiências. Eu não fecho contrato com cliente que eu não conheço, não converso, que eu não crie uma certa intimidade. 

Eu vivo mergulhado, na arte, na engenharia de som e na automação.

E a I am Connection é a junção de tudo isso.

Sim, é a união de tudo isso. É conseguir transformar a sua área gourmet numa sala de espetáculo privada, talvez simples, talvez complexa.

O seu universo é criar esses mini universos personalizados…

No Altiplano, especificamente no prédio chamado Mansões Heron Marinho, existe uma cobertura duplex que possui a maior tela all screen do Brasil, a qual instalamos recentemente. Essa experiência foi incrível e única. Criamos um universo de arte para cada cliente, totalmente personalizado.

Uma lição que aprendi com meu velho é que cada pessoa possui um vasto conhecimento. Às vezes, buscamos conhecimento apenas nas pessoas influentes da academia, que são importantes pois nos fornecem informações excepcionais e complexas. No entanto, a maioria dos problemas e dores que enfrentamos são resolvidos quando as pessoas mais simples entendem suas dores.

Faltam especialistas nessa área?

Olha, Lunara, eu acredito muito no futuro. Desde 2016, tomei uma decisão: vou mudar a cabeça da galera em João Pessoa. Vou mostrar para eles o que é tecnologia. Porque, Lunara, é um negócio muito louco. Esse é um mercado que hoje tomou uma proporção muito bacana, mas nós temos poucos especialistas.

Nós temos poucas pessoas que vão falar profundamente sobre um determinado assunto. Talvez falem mais sobre uma automação que aconteceu no século passado.

Estou falando, muitas vezes, de pessoas jovens, novas no mercado de alto padrão, desenvolvendo produtos extremamente sofisticados, mas arcaicos na tecnologia. Mudar essa mentalidade é um negócio que dá muito trabalho, mas não desisto.

Voltando sobre a I am em João Pessoa…

João Pessoa foi o seguinte, um cara colapsou e eu comprei a empresa dele com o serviço. Quadriplicamos o tamanho. A Paraíba é o melhor lugar da terra, nossa orla é sensacional.

I am significa eu sou. Eu sou conexão. Eu sempre fui o cara escondido. Sou zero comercial, zero front. Eu sou o cara que fica no laboratório e alguém bonitinho fica na frente. E o começo da minha vida sempre foi escondido atrás de alguém.

E eu sempre fui assim, vou dar um exemplo. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, todo o desenho técnico foi feito por mim. Sou uma das poucas pessoas certificadas naquela tecnologia. Mas meu nome não aparece.

Me conta um projeto que te impactou!

Uma vez, em uma casa que visitei, a arquiteta estava interessada em implementar um sistema de automação, mas não especificou claramente o que pretendia desenvolver. Nesse meio tempo, tomei conhecimento da presença de uma pessoa tetraplégica na residência, que havia passado por isso, recentemente.

Lunara, eu não consegui dormir naquela noite. Eu descobri que essa mulher conseguia mexer a íris. Comecei a estudar, pesquisar e desenvolvi. Coisa simples. Surgiu a ideia de integrar um tipo de tecnologia presente em jogos de tiro a um sistema de automação.

Assim, criei um layout de tela personalizado que permitia à mulher tetraplégica, controlar a iluminação, o ar condicionado, sintonizar na programação favorita, assim como outros dispositivos domésticos. Tudo com o movimento da íris. Adicionei funcionalidades para facilitar seu dia a dia, como ligar e desligar dispositivos de acordo com suas necessidades.

Um dos pontos mais impactantes foi a capacidade de transformar áudios de mensagens do WhatsApp em mensagens personalizadas, como um “bom dia, filho, eu te amo”, reproduzidas em seu sistema de som, com a sua própria voz. Este momento foi tão marcante para mim que, ao ver a tecnologia em ação, fiquei profundamente impactado. Pra você não sei se tem sentido, mas naquele dia eu zerei minha vida.

Nossa, incrível, imagino a emoção de todo mundo…

Uma vez, eu estava visitando uma catedral bem conhecida e extremamente turística, e durante a minha visita, o padre mencionou a falta de reverência demonstrada pelas pessoas ao entrarem no templo.

Isso me fez refletir sobre a importância da ocupação completa do espectro de frequência e como poderia afetar a capacidade das pessoas de meditar. Para resolver essa questão, coloquei horários específicos para a reprodução de cantos gregorianos na catedral, volume tal, horário tal, tudo automático.

O padre ficou impressionado ao ver que, ao pisar na porta, o público compreendia estar entrando em um local sagrado.

E quantas pessoas nem imaginam que a automação tem ajudado a resolver essas questões. Fantástico!

Vou te contar mais uma. Estava fazendo uma casa uma casa bem interessante, em Campina Grande. Percebi o alto grau de religiosidade. A pessoa tinha um oratório com uma imagem que havia trazido do Santuário de Fátima, em Portugal. Decidi, então, criar uma maneira de aproximá-la de Deus de uma forma especial. Instalei caixas de som no oratório e programei um horário diário específico para que, automaticamente, começasse a tocar músicas cristãs.

Após cerca de um mês da conclusão da casa, a pessoa não sabia sobre isso, entrou em contato comigo emocionada. Ela me ligou e mencionou que a experiência a fez sentir mais próxima de Deus, e agora, diariamente, ela compartilha vídeos do oratório com todos os contatos. “Jeferson, você me aproximou de Deus”.

É sobre isso.

Jeferson, você fala muito em transformação, dá para transformar a vida de pessoas através da tecnologia?

Imagine a situação: alguém quer um momento especial com a esposa e só fala para a automação ligar a hidromassagem. Ao chegar em casa, a banheira está cheia e borbulhando, só aguardando por ele.

Qual seria o preço disso? O preço aqui não está relacionado apenas à ação de tomar uma decisão, mas sim ao conforto que proporciona. A verdadeira inovação é a que te faz menos ocupado e proporciona mais qualidade de vida.

Como é que você avalia esse mercado na Paraíba? Tem crescido?

Estou muito otimista em relação ao mercado imobiliário em geral, que tem experimentado um crescimento significativo em João Pessoa. Essa tendência é extremamente positiva. Após a tradução da Alexa para o português, tenho observado um aumento no setor de automação, ou seja, um período favorável. A popularização dos dispositivos inteligentes, desde os mais simples, também traz um holofote.

Essa popularização é animal para o mercado, que está cada vez mais dinâmico. Mas, essa movimentação, embora positiva, também nos leva a refletir sobre a banalização que pode ocorrer em meio ao crescimento acelerado do setor. Tudo aquilo que populariza, muitas vezes se banaliza.

Em geral, estamos felizes, bem estabelecidos e reconhecidos por todos no campo da arquitetura. Temos participação em uma ampla gama de projetos, incluindo mais de duzentas residências.

Em relação ao mercado da Paraíba, tenho grandes expectativas e otimista em relação ao nosso futuro.

Quais outros negócios tem apostado?

O menino Jeferson não para, Lunara. Tenho 31 anos e não canso de criar. Eu tenho uma poltrona aqui que a gente desenvolveu, poltrona inteligente. Pensei, por exemplo, em uma mulher com bebê de colo, idoso ou alguém com dificuldades de mobilidade. Ao comando da voz, ela deita, relaxa, levanta a pessoa… São muitas soluções. São 50 modelos diferentes que ainda serão lançados.

Também temos um leitor facial integrado a um aplicativo de eventos. Imagina que você irá realizar um evento no Estádio do Morumbi para 30 mil pessoas. Os participantes compram seus ingressos através do seu site e, ao acessarem o meu aplicativo, utilizam o reconhecimento facial para entrar, sem a necessidade de portar um ingresso físico.

A entrada é apenas permitida através da leitura facial. Além disso, há uma integração com o sistema de segurança pública, possibilitando rastrear a localização de uma pessoa procurada caso ela passe por determinada catraca, setor ou área específica do evento.

Jeferson, muito obrigada pelo seu tempo e contribuição. Para encerrar, quando falamos em automação residencial, sobre o que estamos realmente falando?

Para você vai ser mais fácil de explicar isso aí. Na criação, Deus moldou o homem a partir do barro, deu-lhe o sopro de vida e enviou o Espírito Santo. Podemos pensar no homem como a casa, Deus como o arquiteto e o Espírito Santo como aquele que dá vida a essa casa. No caso, eu.

Agora, quando falamos sobre automação, podemos simplificar: para mim, automação é utilizar tecnologia para solucionar problemas. Muitas vezes, as pessoas pensam em soluções complicadas quando o que realmente precisamos é de uma conexão eficaz. Eu não preciso de coisas mirabolantes para curar um dor. Eu só preciso ter a conexão. E é por isso que o nosso nome é I am Connection.

Basicamente, meu trabalho consiste em integrar equipamentos e tecnologias ao ambiente, seja em residências, galpões ou outros locais; a gente já fez de tudo. Tenho experiência em uma ampla variedade de projetos e soluções. Nosso objetivo, Lunara, é trazer praticidade e eficiência através da automação.

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