Diário de viagem dia 1 – tarde: Penetrando as entranhas do Curimataú – Barra de Santa Rosa

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Manada de elefantes e dinossauro na praça de Barra de Santa Rosa.

Sexta-feira, 14h00 – Restaurante Caboclo – Algodão de Jandaíra

Depois de tantas histórias, lendas arqueológicas e investigações científicas do nosso primeiro relato, o grupo, que percorre 5 cidades do Curimataú da Paraíba para conhecer a “Rota dos Cactos – entre serras e sertões”, se abasteceu da comida regional no Restaurante Caboclo e partiu para a segunda cidade do dia: Barra de Santa Rosa, distante cerca de 40 km. A recepção aconteceu no Parque de Exposições da cidade onde todas as semanas acontece a feira de caprinos, ovinos e bovinos da região e ainda comércio de artesanato e produtos cultivados na região.

Segundo o prefeito Jovino Pereira Nepomuceno Neto (DEM), mais conhecido como Neto Nepomuceno, a feira movimenta R$ 500 mil por semana e a estrutura do parque atrai criadores de todo o estado. A cidade, às margens da PB-104, principal acesso à Campina Grande, se tornou entreposto para os produtores rurais. A economia se baseia na criação de animais para abate e produção de leite. Só que, com menos de 300 mililitros de chuva por ano – essa é a média da região – alimentar esses bichos sempre foi problema. A saída? Uma espécie de cactos – de novo ele! – a palma forrageira que tem uma enorme capacidade de armazenar água e fornecer nutrientes para os rebanhos. Com isso, o município produz atualmente 750 litros de leite de cabra por dia e se tornou referência na produção de queijos. Grande parte dessa produção volta para o município já que o Programa de Alimentação Escolar é o principal comprador do produto. De Barra para Barra! Justíssimo!

Animais em topiaria enfeitam Praça da matriz de Barra de Santa Rosa.

Os animais são o tema também em outro ponto da cidade: a praça da igreja matriz minunciosamente decorada com a arte da topiaria, que transforma copas em bichos. Ideia de um antigo funcionário da prefeitura – Seu Pio – e abraçada pelos moradores. Hoje, as dezenas de árvores são cuidadosamente mantidas no formato de animais pelos filhos de Seu Pio. E não são apenas bodes, bois e galinhas. Tem manada de elefante, camelo, pinguim, onça e até dinossauro. Uma festa para olhos nunca cansados de admiração por esse trabalho que exige técnica, talento e muita dedicação.

Mulheres de fibra

Cultivo do agave alimenta mulheres de fibra na zona rural de Barra de Santa Rosa

Se na cidade, o trabalho em forma de arte é masculino, na zona rural, ele é feminino. 23 mulheres formam o Centro Artesanal Cuiuiu e produzem peças em sisal de uma delicadeza que impressiona. Principalmente, depois de conhecer o processo bruto de produção da fibra que começou na década de 1940, com o avô de duas delas. Utilizando as folhas do agave – que parece primo do cacto, mas não é  – o produtor sertanejo começou a fabricar cordas muito fortes, retalhando, secando e trançando as fibras da planta, conhecidas como sisal. Sucesso de vendas, o produto foi por muitos anos a principal fonte de renda da comunidade.

Até que duas irmãs, netas do pioneiro, aceitaram o desafio de transformar o produto bruto e áspero, em fios longos, bem maleáveis e, ao mesmo tempo, resistentes para ser usado como matéria-prima de peças decorativas. Começaram com tapetes, depois foram cestos, cestinhas, caixas, caixinhas, suporte para panelas e louças e uma infinidade de artigos para casa e para uso pessoal, como porta-joias e bijuterias. O que não mudou foi a forma rudimentar do trabalho, apesar do desenvolvimento de uma máquina desfibradora chamada de “máquina paraibana”, e de uma engenhoca criada e batizada por elas de “cachorro” que serve para torcer os fios. A operação da “máquina paraibana” é a única etapa em que as mulheres de fibra contam com o auxílio de um homem, responsável pelo manuseio do equipamento.

Artesãs revestem as peças de artesanato com as fibras do sisal.

Depois de colher, desfiar, lavar, secar, trançar e torcer chega a hora de revestir as estruturas das peças feita em arame. Aqui, a força e a delicadeza convivem e, muitas vezes ferem dedos e mãos. Uma das jovens artesãs presentes na demonstração do trabalho durante a nossa visita, revelou: “Minha mãe perdeu as digitais de tanto manusear a fibra”. Impossível não pensar: será que linhas digitais nos dedos são realmente marcas da identidade de uma mulher?  

Nota: A repórter viajou a convite da PBTur e do Sebrae.

Leia mais:

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Marina Rievers
Marina Rievers é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas - 1988). Com vasta experiência em redações de jornais impressos e TV’s, trabalhou também com comunicação empresarial, gerenciando equipe em empresa grande porte, com foco na construção de reputação e no relacionamento com a comunidade.