Da Nasa ao MIT: como a inteligência artificial está revolucionando a pulverização de lavouras com precisão

Conheça a tecnologia criada pelo ex-aluno, Vishnu Jayaprakash, que promete aos produtores uma ajuda valiosa na aplicação de defensivos agrícolas em doses cada vez menores

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Produtor utilizando equipamentos agrícolas de precisão no campo

A “agricultura de precisão” tem se destacado como uma das principais tendências na agricultura moderna. Entre os primeiros avanços nessa área está a tecnologia de “direção automática”, desenvolvida inicialmente pela NASA. Utilizando GPS ou outras formas de georreferenciamento, essa tecnologia guia tratores e equipamentos para evitar sobreposições e falhas na aplicação de sementes, fertilizantes ou planejamento, além de assegurar que o tráfego de rodas seja restrito a trilhas específicas, minimizando a compactação do solo.

Outras inovações incluem a aplicação variável e detalhada de sementes, produtos de controle de pragas ou fertilizantes, com base em dados obtidos por satélites, drones ou análises de rendimento das colheitas anteriores. Essas ferramentas permitem aos agricultores aumentar a produtividade enquanto reduzem os custos e fatores de produção.

Além disso, existem tecnologias de precisão que utilizam dados em tempo real enquanto o equipamento se move pelo campo. Um exemplo é a tecnologia “See and Spray” da John Deere, que emprega câmeras integradas e inteligência artificial para identificar e tratar ervas daninhas específicas no local.

Outra inovação recente na agricultura de precisão envolve o uso de câmeras para observar como as gotas de pulverização interagem com a superfície das plantas. Vishnu Jayaprakash, um ex-aluno do MIT (Massachusetts Institute of Technology), estudou o processo de dispersão de culturas e descobriu que o principal desafio é fazer com que um sistema de distribuição à base de água interaja eficientemente com a superfície cerosa das plantas.

A tecnologia de imagem e inteligência artificial desenvolvidas no MIT têm se mostrado essenciais para entender variáveis como os efeitos dos surfactantes, a tensão superficial do líquido, a pressão, o fluxo e a configuração do bico de aplicação, além das condições climáticas como temperatura, intensidade da luz solar, vento e umidade. Embora o MIT não seja normalmente associado a tecnologias agrícolas, suas contribuições têm sido valiosas para criar soluções práticas para os agricultores.

Ex-aluno do MIT, Vishnu Jayaprakash, aposta na concentração de soluções por meio da IA

A empresa AgZen, sediada em Cambridge e fundada por Vishnu Jayaprakash com apoio de capital de risco, desenvolveu um sistema inovador de duas câmeras. Esse sistema, que pode ser integrado a equipamentos agrícolas convencionais, utiliza imagens da solução pulverizada nas plantas-alvo para ajustar a cobertura e garantir gotas de tamanho adequado.

Esse sistema permite ajustes precisos no movimento dos equipamentos, alcançando uma cobertura de densidade “perfeita”. Com isso, os agricultores podem alcançar uma eficácia comparável usando apenas 20-30% da quantidade de produto normalmente aplicada por hectare. Essa redução de uso resulta em economia significativa, desde que o tratamento continue eficaz para controle de pragas, fertilização, modificação do crescimento das plantas, entre outros objetivos. A tecnologia foi testada na desfolha de algodão na Texas A&M University, demonstrando sucesso com 50% da taxa de uso recomendada no rótulo do produto.

Recentemente, a tecnologia começou a ser testada em vinhedos, onde uma redução de 30% na taxa de aplicação ainda mostrou eficácia. Além disso, Susan Scheufele, pesquisadora de extensão da Universidade de Massachusetts, conduziu experimentos com a tecnologia em hortaliças, confirmando economias em custos de pesticidas e mantendo a proteção das culturas.

Denominado Real Coverage, o sistema da AgZen é compatível com a maioria dos equipamentos agrícolas existentes. Nos EUA, a startup está alugando o equipamento para utilização em 26 mil hectares e planeja expandir para 100 áreas de trabalho no próximo ano.

Real Coverage, o sistema da AgZen que pode ser acoplado às máquinas nos sistemas de agricultura de precisão

O principal benefício dessa tecnologia é a significativa redução de custos para os agricultores, sem apresentar problemas de segurança relacionados a pesticidas e outros produtos. Esses produtos são rigorosamente regulamentados pela EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos) para assegurar que, quando as culturas chegam ao consumidor ou à alimentação animal, qualquer resíduo químico ou seus metabólitos estejam bem abaixo dos níveis perigosos.

A EPA coleta extensos e caros dados sobre toxicidade e destino ambiental, exigidos das partes que buscam o registro, além de estabelecer limitações e padrões de uso para garantir que os resíduos permaneçam abaixo dos limites aceitáveis para cada cultura ou produto. Esse processo complexo assegura que o rótulo da EPA defina claramente como o produto deve ser utilizado com segurança, incluindo as quantidades permitidas, o tempo de retorno dos trabalhadores ao campo e o intervalo até a colheita.

Além disso, o USDA realiza anualmente a coleta de amostras de frutas e vegetais no mercado atacadista por meio do Programa de Dados sobre Pesticidas. Os resultados mais recentes, publicados no início deste ano, mostraram que mais de 99% das 10.665 amostras de 23 produtos estavam dentro dos limites conservadores estabelecidos. Com a crescente adoção de métodos de Agricultura de Precisão, como a inovação da AgZen, esses números podem melhorar ainda mais.

Fonte: Steven Savage em Forbes Brasil

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