Os custos dos planos de saúde para beneficiários na faixa etária de 0 a 18 anos apresentaram um crescimento acentuado no período pós-pandemia de Covid-19, superando os valores registrados tanto pela média dos beneficiários quanto pela população idosa (a partir de 59 anos). É o que revela um estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), baseado em dados de planos médico-hospitalares individuais.
De acordo com o estudo, a Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH) em setembro de 2023 foi de 32,7% para o grupo de jovens entre 0 e 18 anos. Em comparação, a VCMH para beneficiários com 59 anos ou mais foi de 7,8%. O VCMH é um índice que mede a variação dos custos das operadoras de planos de saúde com internações, consultas, terapias e exames entre dois períodos consecutivos de 12 meses, levando em consideração tanto a variação de preços quanto a frequência de utilização dos serviços.
Segundo José Cechin, superintendente-executivo do IESS, desde 2015, o índice VCMH da faixa etária de 0 a 18 anos tem sido consistentemente superior à média dos beneficiários e ao grupo dos idosos. No entanto, a partir de 2021, no período pós-pandemia, o crescimento dos custos para os mais jovens tornou-se mais intenso.
O estudo destaca o aumento significativo dos custos em Outros Serviços Ambulatoriais (OSA), que incluem atendimentos de fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Em setembro de 2023, o custo médio desses serviços cresceu 9%, enquanto a frequência de utilização aumentou 26,6% em comparação ao mesmo período do ano anterior. No grupo Terapias, o custo médio subiu 3%, com um crescimento de 63,8% na frequência de utilização.
Por outro lado, o crescimento foi menos intenso nos grupos de Consultas, com altas de 7,7% no custo médio e 4% na frequência de utilização, e de Exames, que apresentaram um aumento de 4,7% na frequência de utilização, enquanto o custo médio teve uma redução de 0,9%.
O estudo sugere que o aumento dos custos nos grupos OSA e Terapias pode estar relacionado às recentes tendências de sobrepeso e obesidade infantil, potencializadas durante a pandemia devido ao isolamento social. O sedentarismo e a alimentação hipercalórica são apontados como fatores que contribuíram para esse problema de saúde.
Outro fator identificado pelo IESS como influente no aumento dos custos para a faixa etária mais jovem é o crescimento dos casos diagnosticados de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a alta demanda por tratamentos. Em julho de 2022, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revogou o limite de cobertura para quatro categorias profissionais, o que pode ter gerado uma pressão inflacionária adicional.
O estudo também aponta para uma tendência de continuidade na alta dos custos para o atendimento da população jovem, com base em projeções realizadas através de um modelo internacional de projeção de custos. Isso apresenta um desafio para os planos de saúde, especialmente considerando que esses planos são baseados no princípio do mutualismo, no qual os beneficiários mais saudáveis e jovens subsidiam parte dos custos dos menos saudáveis e idosos.
Cechin conclui que os resultados do estudo indicam a necessidade de revisar os hábitos de saúde de crianças e adolescentes, incluindo questões como alimentação, práticas de atividades físicas e saúde mental, para evitar problemas de saúde a longo prazo nessa população.