Apenas dois dos maiores deltas do planeta desembocam em mar aberto: o do rio Nilo, no Egito, e o do rio Mekong, no Vietnã. O delta do Parnaíba, localizado na divisa entre Maranhão e Piauí, ocupa o terceiro lugar nesse ranking, embora seja um tanto esquecido, inclusive entre os brasileiros, sendo o único do tipo nas Américas.
O delta do Parnaíba é verdadeiramente grandioso e dinâmico, com fortes variações de maré que rapidamente cobrem e descobrem suas areias e características. Antes de se encontrar com o Atlântico, o rio se divide em cinco braços principais e vários igarapés e igapós. Abrangendo uma área de 2.700 quilômetros quadrados, quase o dobro do tamanho da cidade de São Paulo, o delta cria um labirinto de dunas imensas, lagoas cintilantes, extensos manguezais e densas florestas tropicais, onde 83 ilhas fluviais se estabelecem ao longo do percurso.

Muitas ilhas têm nomes curiosos, como Ilha do Bagre Assado ou Ilha do Feijão Bravo. A maior delas, Grande de Santa Isabel, cobre uma área de 134 quilômetros quadrados. Em seguida está a ilha das Caiçaras, um pouco menor, porém com uma paisagem igualmente exuberante, incluindo encantadoras lagoas de água doce para banhos. A terceira maior ilha, cujo nome é tão extenso quanto o sobrenome de sua proprietária, Ingrid von Sösten Meyer de Mendonça Clark.
Ilha do Caju
A ilha do Caju possui 100 quilômetros quadrados, o que equivale a quatro vezes a área do arquipélago de Fernando de Noronha. É a maior ilha particular do Brasil e, para muitos, a mais bonita. Segundo o jornalista Ronaldo Ribeiro, ex-editor da revista National Geographic, ela é um verdadeiro resumo dos mais belos biomas brasileiros, incorporando florestas de terra firme como na Amazônia, manguezais da Mata Atlântica, áreas alagadas do Pantanal, trechos de dunas e lagoas dos Lençóis Maranhenses, além de um extenso litoral com 27 quilômetros de praias costeiras.
Parque temático natural e aleatório, o lugar contava também com uma pousada refinada. Mas ela foi fechada. Reabrirá com todos os cuidados, em breve. “Nosso ecossistema é riquíssimo, mas muito frágil”, ressalva Ingrid Clark. “Não comporta turismo de massa.”
De toda forma, ao longo do dia, a ilha do Caju oferece uma excelente infraestrutura para receber visitantes. É possível alugar cavalos ou quadriciclos. João Farkas, autor das fotografias desta reportagem, entusiasticamente recomenda: “Esteja lá no final da tarde. Você presenciará um espetáculo único: a reunião dos guarás, que se encontram em uma ilhota bem próxima à ilha do Caju”.
É, sem dúvida, um espetáculo insular magnífico. Diariamente, à mesma hora, milhares de guarás, reconhecidos pela sua coloração vermelho vivo, realizam um verdadeiro balé na ilhota. Ao anoitecer, até quatro mil dessas aves se reúnem ali, aproveitando a ilhota como um refúgio seguro, livre de predadores. Esta é a razão pela qual escolhem este local.
Parnaíba, a base para conhecer o delta
O rio Parnaíba, também conhecido como Velho Monge, tem sua nascente na serra da Tabatinga, na divisa entre Bahia, Tocantins e Maranhão. Ao longo de aproximadamente 1.400 quilômetros navegáveis por embarcações de calado reduzido, ele serve como fronteira geopolítica entre o Piauí e o Maranhão antes de alcançar o Oceano Atlântico. Próximo à sua foz, a maior parte do delta, cerca de 65%, está localizada no Maranhão, enquanto os restantes 35% pertencem ao Piauí. Apesar da proporção aparentemente desigual, a cidade de Parnaíba, no Piauí, é a principal porta de entrada para o delta, conhecida por seus centenários casarões e armazéns, além de ser animada pela presença de mais de 12 mil universitários.
Os passeios pelo delta partem do Porto dos Tatus. Recomenda-se o uso de lanchas, que são mais rápidas, exclusivas e permitem navegar por passagens estreitas. É essencial reservá-las com antecedência, pois há poucas saídas regulares disponíveis. Além disso, não se esqueça do repelente, já que os mosquitos são frequentes nos manguezais, que também são habitados por caranguejos.

Uma das melhores notícias para os visitantes na última década foi a melhoria das estradas no Nordeste. Isso permite uma viagem de carro tranquila até o delta, sem contratempos. Foi criado até um roteiro conjunto pelos órgãos de turismo de três estados: Ceará, Piauí e Maranhão. A jornada começa em Jericoacoara, no Ceará, que possui um aeroporto moderno, e termina nos Lençóis Maranhenses, percorrendo 400 quilômetros de estradas tranquilas. Importante destacar: sempre com boas opções de hospedagem. Esse roteiro foi batizado até mesmo com um nome pomposo pelos responsáveis do turismo: Rota das Emoções.
Parque Nacional de Sete Cidades
Por fim, quem vai ao delta tem a oportunidade de uma escapada ao Parque Nacional de Sete Cidades, encravado a pouco mais de duas horas de carro da cidade de Parnaíba. Uma fria descrição geográfica diria que seus 6.200 hectares são área de transição entre o cerrado e a caatinga, com vegetações típicas desses ecossistemas. Mas o parque é muito mais que isso.
O nome Sete Cidades advém de agrupamentos rochosos distantes uns do outro. Lembram, de fato, prédios urbanos. “Vários deles apresentam inscrições rupestres de 6 mil a 8 mil anos”, contabiliza Waldemar Justo, chefe do parque nacional. Em uma dessas “cidades” resplandece o desenho milenar de um lagarto. Outra, uma mão com seis dedos — o que suscita fantasiosas teses da visita de extraterrestres a nossos ancestrais. Há outras milhares de inscrições nesses sítios arqueológicos. De qualquer maneira, você topará com outro tesouro escondido: o próprio delta do Paraíba.

Fonte: Revista Unquit