O Banco Central garantiu que não “hesitará” em elevar a taxa Selic se considerar apropriado para assegurar a convergência da inflação para a meta de 3,0%, conforme a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira. A afirmação foi feita de forma unânime por todos os diretores do colegiado, inclusive por aqueles indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido por defender juros mais baixos.
Isso colocou de vez no radar do mercado financeiro uma alta da Selic. O detalhamento da ata sobre a visão do BC em relação ao cenário atual não conta com o episódio desta segunda-feira, em que houve forte turbulência nos mercados ao redor do mundo devido a temores com uma possível recessão nos Estados Unidos. Ontem, a moeda americana chegou a tocar em R$ 5,86, mas se acomodou ao longo do dia com dados mais favoráveis de atividade nos EUA e fechou em R$ 5,73.
Nesta reunião, o Copom considerou como ponto de partida para as projeções de a cotação do dólar a R$ 5,55. As expectativas ficaram em 4,2% para 2024, 3,4% para 2025 e 3,2% no primeiro semestre de 2026, foco do trabalho do BC, considerando a Selic constante em 10,50% ao longo do horizonte relevante. O alvo é de 3,0%.
Mas o comitê também incluiu na semana passada o comportamento do câmbio como mais um risco de alta inflacionária, que agora são três, contra dois fatores que podem levar a uma baixa da inflação. Segundo o comitê, entre os riscos de alta estão “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.
Por outro lado, entre os riscos de baixa para a inflação, o Copom cita a possibilidade de uma desaceleração maior da atividade global, justamente o que se discute agora com mais força em relação aos Estados Unidos.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância.”
Em relação à política fiscal, que está sob escrutínio do mercado financeiro e de especialistas, o Copom disse na semana passada que “tem impactado os preços de ativos e as expectativas”. No momento, o governo projeta déficit primário de R$ 28,8 bilhões este ano, no limite inferior da meta, e enfrenta dificuldades para fechar o orçamento do ano que vem.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, reforçou, no comunicado.