A indicação do atual vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta, para substituir, a partir do ano que vem, o CEO, Eduardo Bartolomeo, foi bem recebida por analistas de mercado. Segundo relatórios dos bancos de investimentos BTG Pactual e Itaú BBA, o anúncio, feito na noite de segunda-feira, é positivo porque retira um peso — “overhang”, no jargão do mercado — dos negócios da mineradora.
Em comum, as análises colocam o conturbado processo de sucessão de Bartolomeo como um problema para a . Uma questão interna que atrapalha o enfrentamento de outros desafios.
Alguns dos obstáculos citados são, entre outros, os efeitos da desaceleração do crescimento econômico da China sobre a demanda por minério, o tamanho da indenização de reparação pelos danos causados pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), em 2015, e dificuldades em fazer a produção crescer com custos operacionais controlados.
“Um overhang resolvido; assinar um novo acordo para Mariana e renovar as concessões ferroviárias serão os próximos marcos”, resumiram os analistas do Itaú BBA, enquanto o relatório do BTG Pactual também classificou o anúncio do novo CEO como um “evento de redução de risco (de-risking)”.
Continuidade da estratégia
O relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Daniel Sasson, Edgard Pinto de Souza, Marcelo Furlan Palhares e Barbara Soares, chamou a atenção para o fato de que a indicação de Pimenta permitirá uma continuidade na atual estratégia de negócios da Vale.
“Em nossa visão, uma substituição interna é a melhor alternativa para a Vale pelos seguintes motivos: i) ela suaviza a transição e limita mudanças na estratégia da empresa; e ii) não interrompe os processos de negociação em andamento com os parceiros da Vale sobre tópicos importantes”, escreve a equipe do Itaú BBA.
Já os analistas do BTG Pactual chamaram a atenção ainda para o fato de que o anúncio do novo CEO veio antes do esperado. O cronograma anteriormente informado pela mineradora previa a confirmação do nome do substituto de Bartolomeo até o início de dezembro.
“O momento da nomeação é uma grande surpresa. Esperávamos uma resolução para esse overhang apenas em dezembro, o que significa que o processo foi significativamente acelerado como uma forma de reduzir o risco associado à história do investimento (na empresa)”, diz o relatório do BTG Pactual, assinado por Leonardo Correa e Caio Greiner.
Vitória da governança
Para os analistas do banco de investimentos, que não mudaram sua recomendação para as ações da Vale — classificada como “neutra”, ou seja, nem recomendam a compra nem a venda dos papéis — a solução encontrada com a indicação de Pimenta é uma vitória da governança das grandes companhias abertas:
“O fato de o processo ter ocorrido de acordo com os mais altos padrões de governança é uma vitória para a empresa e, em última análise, para o país, já que a Vale é uma das empresas mais importantes do Brasil. Mais uma vez, a governança da Vale prevaleceu em meio a tentativas de interferência política (segundo relatos da imprensa), o que acreditamos ser reconfortante”.