Uma cidade que absorve água: conheça a cidade-esponja!

Criadas pelo arquiteto Kongijan Yu, as regiões funcionam como esponja para a água da chuva e podem ser um caminho para adaptação às mudanças climáticas.

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Criadas pelo arquiteto chinês Kongijan Yu, as regiões funcionam como esponja para a água da chuva e podem ser um caminho para adaptação às mudanças climáticas. Foto: Reprodução/Turenscape

A tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul colocou em discussão como as cidades podem se tornar resilientes às mudanças climáticas. Mas esse debate não é novo. Especialistas em urbanismo e arquitetura já apresentaram inúmeros projetos e soluções para o problema dos alagamentos nos aglomerados urbanos que, em sua maioria, surgiram às margens dos rios.

Em 2022, o urbanista e arquiteto chinês Kongijan Yu apresentou no Fórum Econômico Mundial os resultados da implantação da cidade-esponja. A ideia é transformar a cidade em um espaço que consiga absorver e escoar água, exatamente como uma floresta.

Longe de ser aplicado em uma cidade inteira, o conceito, na verdade, se traduz em espaços capazes de captar a água da chuva de maneira natural e usável. Responsável por arquitetar parques e áreas urbanas verdes, Yu consegue em seus projetos absorver cerca de 70% das águas de chuva das cidades, o que é bastante, lembrando que a China está em uma região que recebe as temidas chuvas de monções. 

Sinuosa como um rio

A ideia da cidade-esponja começa e termina com a água. Antes de planejar um espaço urbano para evitar enchentes, é preciso pesquisar qual era o caminho natural da água naquele solo, antes mesmo de a cidade existir. Por isso, os arquitetos e urbanistas do Turenscape, escritório de Kongijan Yu, constroem modelos a partir de dados, reconstruindo os caminhos dos rios e o curso das chuvas no ambiente. “Você não pode lutar contra a água. Você precisa deixar que ela escoe”, disse Yu. 

A construção então é feita acompanhando esse curso. Logo, ela tende a ser curva, com declives e vazões, assim como acontece na superfície de um rio. Os parques criados por Yu funcionam quase como as margens ribeirinhas: eles têm plantas locais, espaços que ficam vazios durante os tempos de seca e os que enchem nas épocas das chuvas de monções. 

Um exemplo dessa adaptação está nos corredores em volta do Rio em Pujiang, província do leste chinês. O parque conta com 16 quilômetros de comprimento e fica localizado nas margens do rio que corta a cidade, o Puyangijiang. O mais interessante do projeto é que, além de conseguir incorporar a natureza dos meandros do rio e trazer as pessoas de volta para a região, ele conseguiu ajudar a despoluir as águas em três anos.

Do desastre ao sucesso

Já nos anos 2000, o escritório de arquitetura pesquisou sobre os terrenos com maior risco de enchente de Pequim e fez uma recomendação clara: não construa nesses lugares, pois eles devem ser usados para absorver as tempestades. A recomendação recebeu críticas, até porque, na época, a urbanização da China estava em plena expansão.

Em julho de 2012, no entanto, uma enchente ameaçou parte da infraestrutura da capital chinesa e matou quase 100 pessoas. O desastre foi tamanho que o governo chinês procurou Yu e lançou um projeto nacional de “cidades-esponja”, com o objetivo de criar espaços naturais para escoar, pelo menos, 70% da água das chuvas. Hoje, são quase 90 projetos realizados e mais 538 em desenvolvimento. Até 2030, 80% das áreas urbanas chinesas devem ter elementos de cidade-esponja. 

Parques lineares em João Pessoa

Mais do que uma preocupação ambiental, o conceito de cidade-esponja ganhou roupagem tupiniquim nos chamados parques lineares que começaram a ser implantados em João Pessoa em 2017. Essas áreas auxiliam a enfrentar outro grave problema que muitas metrópoles brasileiras vivem com frequência: as inundações. Com tantos cursos d’água canalizados em galerias, há menos espaço para que as chuvas escoem, o que é agravado pelo excesso de pavimentação (e impermeabilização) das cidades, com suas grandes avenidas. À medida que os parques lineares recuperam rios e córregos, além de aumentarem a impermeabilidade do solo nas várzeas, auxiliam no escoamento de água das chuvas e na diminuição dos alagamentos.

Os parques lineares têm comprimento maior que a largura, formando uma “linha” de área verde e são construídos paralelamente a cursos d’água, como rios e córregos, acompanhando seus trajetos. Dessa maneira, configuram muito mais do que um espaço de lazer e convivência que deixa a cidade mais bonita e agradável, sendo também importantes para a preservação dessas áreas, chamadas pelos especialistas de “fundos de vale”. A capital paraibana tem três áreas implantadas nos bairros do Jardim Oceania e Bessa e outras quatro em construção nos Bancários, no Aeroclube, no Jardim Oceania e no Valentina Figueredo.

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Redação
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