O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira que a prévia da inflação veio melhor que o esperado, mas não trouxe “conforto” e destacou que ainda existe uma diferença relevante entre as estimativas do mercado para a meta fiscal e a projeção do governo. O , mas analistas dizem que o indicador deve voltar a subir.
Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que haverá um “esforço” no segundo semestre, que deve fazer com que o governo consiga atingir a meta de déficit zero para 2024, ainda dentro de margem de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos.
Campos Neto ressaltou que a condução da política monetária está relacionada a um cenário de expectativas ancoradas, e destacou que as despesas do governo continuam crescendo acima das receitas.
Desemprego mais baixo
Além disso, disse que as inflações implícitas (diferença entre a taxa de juros real e a nominal) subiram bastante, estendendo-se até 2026, o que causa “um grande desconforto no Banco Central”. Ele garantiu, mais uma vez, que a autarquia vai fazer o que for preciso para atingir a meta de inflação.
— Ainda tem uma diferença grande entre o mercado espera e o que é a meta do governo. A gente reconhece que o governo tem se esforçado bastante, tem sido bastante difícil esse exercício, e a gente vê que, apesar de ter uma evolução de receita boa, as despesas estão subindo acima da receita — disse Campos Neto nesta terça-feira, na 25ª Conferência Anual do Santander, organizada pelo banco em São Paulo.
O presidente do BC disse ainda que a autarquia tem olhado com atenção para o mercado de trabalho bastante aquecido. Campos Neto, no entanto, mencionou que os economistas inicialmente calculavam que uma taxa de desemprego abaixo de 9% teria impacto relevante sobre os preços, estimativas, o que não se concretizou. Depois, estimaram que esse cenário só aconteceria se a taxa caísse abaixo de 8% — o que também não aconteceu.
— E a gente está com um desemprego bem mais baixo (que esse patamar). E ainda (estamos), obviamente, com o setor de serviços um pouco pressionado, mas muito longe do que a gente imaginava um tempo atrás — concluiu.
Eleição americana
Campos Neto elencou uma série de fatores externos que podem contaminar a economia nacional, como mercado de trabalho aquecido e níveis baixos de desemprego. A corrida pela presidência americana também foi mencionada, sobretudo porque não há sinais de austeridade tanto pelo lado democrata, quanto pelo lado republicano.
Além disso, Kamala Harris e Donald Trump sinalizam que devem aumentar o protecionismo em relação a produtos chineses, com sobretaxas de importação. Combinados, esses fatores poderiam impactar os preços, o que levaria ao Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a manter os juros em patamar mais elevado.