
Durante a abertura da Olimpíada de Paris na última sexta-feira (26), a delegação brasileira desfilou com uniformes que já estavam no centro de uma polêmica. Cerca de 100 pessoas estarão a bordo do barco que conduziu os atletas, e suas jaquetas jeans com bordados de araras, tucanos e onças reacenderam debates nas redes sociais. O design das jaquetas, confeccionado por 80 mulheres de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte, é alvo de críticas que questionam se a peça é adequada para um evento de tal magnitude.
As bordadeiras de Timbaúba dos Batistas produziram os bordados para os 2.200 uniformes oficiais do Brasil para a abertura e o encerramento da Olimpíada. Algumas dessas artesãs chegaram a Paris na quinta-feira (25), acompanhadas pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, para presenciar a reação ao seu trabalho, que levou quase oito meses para ser concluído. A encomenda foi feita pelo instituto social da Riachuelo, que, juntamente com as Havaianas, é um dos parceiros comerciais do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para a missão Paris.
As jaquetas jeans unissex, que estão sendo usadas pelos atletas, também estão disponíveis nas lojas e online da Riachuelo, ao custo de R$ 599. Entretanto, o que poderia ser uma estratégia de marketing positiva, promovendo o uso de trabalho social e materiais reaproveitados, acabou se tornando um desafio para a imagem da empresa. Na véspera da abertura dos jogos, a Riachuelo teve que explicar o conceito por trás dos uniformes, devido às críticas recebidas.
As bordadeiras, que se dedicaram intensamente à criação dos bordados, não gostaram dos comentários negativos nas redes sociais. “Temos muito orgulho do nosso trabalho”, afirmou Jailma Araújo, coordenadora de Desenvolvimento Econômico e Artesanato do Município e presidente da Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas. O projeto contou com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Riachuelo, que já desenvolviam ações de qualificação e marketing para as bordadeiras.
Bordado do Seridó no palco internacional
Timbaúba dos Batistas, uma cidade com cerca de 2.400 habitantes na região do Seridó, é conhecida por suas bordadeiras. O trabalho dessas artesãs ganhou destaque nacional quando Rosângela da Silva, a Janja, esposa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, usou um terno dourado bordado por elas durante a posse presidencial. Agora, a comitiva de bordadeiras apresentará seu trabalho em Paris, na Casa Brasil, instalada no Parc La Villete, que conta com 5 mil metros quadrados.
O grupo trouxe uma grande máquina de costura para demonstrar ao público francês e turistas o trabalho artesanal que atrai compradores de vários países. Os visitantes poderão interagir com as peças de bordado tradicional e acompanhar conversas entre uma estilista e uma bordadeira do projeto “Bordadeiras de Timbaúba”. A expectativa é que a participação na Casa Brasil resulte em novos contratos e oportunidades para as artesãs.