A Bolsa de Valores brasileira registrou três recordes consecutivos na semana passada, apesar da alta volatilidade dos ativos globais, impulsionada por investidores estrangeiros. A movimentação ocorreu em um contexto de reação do mercado a dados de atividade nos Estados Unidos.
Entretanto, a migração significativa de investidores de renda fixa para o mercado acionário brasileiro ainda não é esperada para breve. Segundo levantamento do Itaú BBA, realizado com 130 investidores institucionais nacionais, a taxa básica de juros (Selic) precisaria cair para 9% ao ano para justificar essa transição. Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano, com expectativas de elevação no próximo mês.
O Banco Central do Brasil, ao adotar uma postura mais dura e considerar a retomada do ciclo de alta dos juros, reforça a confiança na Bolsa brasileira. Esse movimento é visto como um comprometimento com a meta de inflação, o que pode abrir espaço para uma queda maior da Selic no próximo ano, tornando o mercado acionário mais atrativo.
De acordo com Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, o que mais influencia o Ibovespa, principal índice da Bolsa, são as expectativas para a curva de juros de longo prazo, especialmente as taxas de contratos com vencimento em dez anos. A possibilidade de alta da Selic neste ano fortalece a Bolsa, ao aumentar a credibilidade da política monetária e atrair investidores dispostos a assumir maiores riscos.
Entre julho e agosto, houve um influxo de aproximadamente R$ 11 bilhões em aportes estrangeiros no mercado de ações do Brasil, revertendo uma saída de quase R$ 40 bilhões registrada no primeiro semestre, segundo Jennie Li, estrategista de ações da XP.
Por outro lado, uma elevação da Selic pode continuar a atrair investidores brasileiros para a renda fixa, dificultando uma migração significativa para o mercado de ações. “O investidor local perderá o senso de urgência para comprar ações se os juros de curto prazo subirem”, afirma Daniel Gewehr.
Yuri Alves, economista da Guide Investimentos, destaca que as taxas de remuneração dos títulos de renda fixa permanecem altas, mesmo após um forte movimento de elevação desde o ano passado. Ele também observa que a curva de juros de longo prazo deve permanecer elevada devido à percepção de risco fiscal no Brasil, o que resulta em taxas mais altas para compensar esse risco.
A Bolsa brasileira teve um desempenho inferior no primeiro semestre, impactada pela falta de comprometimento do governo com as metas fiscais estabelecidas para o próximo ano. No entanto, analistas observam uma melhora, com esforços do governo para demonstrar compromisso fiscal, tanto ao aumentar a arrecadação quanto ao implementar medidas de corte de gastos.
Rafael Vitória, economista-chefe do banco Inter, aponta que dados recentes de arrecadação indicam uma possível reversão do risco fiscal, o que pode facilitar o cumprimento da meta fiscal deste ano e fortalecer a moeda brasileira. Ela também vê um cenário externo mais favorável, com expectativas de queda dos juros nos EUA, o que pode valorizar o real frente ao dólar.
No ambiente doméstico, o crescimento do PIB brasileiro acima das expectativas e o dinamismo do mercado de trabalho são fatores que podem continuar a impulsionar o desempenho das empresas e, consequentemente, da Bolsa de Valores.
Redação com informações da Folha de S.Paulo