Até o início dos anos 2000, Bananeiras era apenas uma cidade do interior da Paraíba com pouco mais de 20 mil habitantes e uma economia baseada apenas na produção de bananas (claro!), e registros históricos importantes, como ter sido, no fim do século XIX, a segunda maior produtora de café do Nordeste. Mas, toda essa história estava se perdendo, abandonada e até esquecida pelos próprios moradores. Gerar empregos para a população era urgente e necessário já que boa parte dependia do setor público para ter uma ocupação.
Esse cenário começou a mudar pelas mãos de mulheres que iniciaram uma corrida para transformar o município em um destino de lazer cultural. Comandadas pela prefeita Marta Ramalho, a espinha dorsal dessa transformação foi formada por outras três, colocadas em áreas estratégicas para o desenvolvimento da cidade: educação, saúde, ação social, cultura e turismo. À frente dessa última estava a cirurgiã dentista Ana Gondim, nascida em Patos, no sertão do estado, estudante interna em uma escola em Areias e apaixonada pelas manifestações culturais do estado. “Não adiantava ter ideias mirabolantes. Era preciso ter ousadia e coragem”, afirma Ana.
Com tanta beleza e história, o primeiro passo foi elaborar um diagnóstico da vocação do município. E não deu outra: turismo! Até então, a cidade contava com alguns pontos de visitação pouco conhecidos, prédios históricos malconservados e/ou abandonados e uma infraestrutura precária. O clima ameno da serra e a forte influência da cultura junina inspiraram a primeira iniciativa: uma festa de São João Pé de Serra. “Já que não tínhamos uma infraestrutura adequada, oferecemos aos visitantes uma festa original, com palco baixo, trios de forró na formação tradicional em uma paisagem bela, única e histórica”, relata Ana que, ainda hoje, se orgulha do sucesso imediato do evento.
Flores de cemitério
Um relato da dificuldade enfrentada pelas organizadoras, é relembrada por Ana. “Precisávamos enfeitar a praça principal, mas não havia recurso adquirir mudas de flores”. Ao passar pelo cemitério da cidade e vê-lo florido e colorido, a prefeita não se fez de rogada. Solicitou a doação de mudas das plantas que, algum tempo depois, coloriram toda a praça. Ao fim do período da festa, ela retornou ao cemitério e, até se cansar, colocou as flores sobre as lápides. Como o volume era grande, Marta decidiu deixá-las na capela do cemitério e comentou, bem-humarada, com a equipe: “Vou deixá-las aqui para que os donos venham buscar”.
A partir daí, Bananeiras construiu parcerias com universidades, fóruns de turismo, Sebrae, empresários, imprensa e ganhou o Museu da Cidade, o Espaço Cultural com teatro, galeria de arte e sala para a banda filarmônica, a Casa do Turista – primeiro receptivo público do interior da Paraíba com guias da prefeitura. Foram elaborados também programas de capacitação de mão de obra, roteirizadas trilhas ecológicas e, principalmente, implantadas leis de incentivo para atrair negócios para a cidade, com isenção de IPTU por 10 anos e de 5 para o ISS.
Em 2005, inspiradas pelo estado vizinho Pernambuco, lançaram a primeira edição da Rota Cultural Caminhos do Frio que se aproxima de duas décadas de criação com a participação de 10 municípios. “No início eram apenas 15 dias com 5 municípios convidados. Fizemos um trabalho de restauração de prédios históricos, criação de espaços culturais, construção de roteiros gastronômicos e de aventura e ampliamos a infraestrutura. Saímos de 70 leitos para 700, apenas em Bananeiras. Hoje, o formato inclui uma programação cultural diversa de 7 dias em cada cidade, de julho a setembro”, enumera.
Classificada como o evento mais aconchegante da Paraíba, a Rota Cultural Caminhos do Frio utiliza o clima da Serra da Borborema, a 550 metros de altitude, para atrair visitantes para Bananeiras e mais nove cidades: Areia, Pilões, Remígio, Solânea, Serraria, Matinhas, Alagoa Nova, Alagoa Grande e Borborema. Durante os meses de julho e setembro, o clima nesta região fica em média 12 graus.
Toda essa história de pioneirismo e ousadia colocou Bananeiras no sexto município mais visitado do estado e no segundo, no período de inverno, reunindo um leque de atrativos, atividades e produtos ligados à cadeia produtiva do turismo que só cresce. Ana não esconde o orgulho de ter participado desse projeto e salienta que, para continuar trilhando o caminho do sucesso, são necessários cuidados. “Precisamos cuidar das pessoas – moradores e visitantes – do meio ambiente e da nossa maior riqueza: a cultura”, alerta.