A morte do Papa Francisco, ocorrida na última segunda-feira, 21, repercutiu para além dos meios religiosos e políticos, mas também no universo do entretenimento. Em um movimento que tem se tornado comum após grandes acontecimentos históricos, o público buscou na arte formas de compreender, homenagear ou simplesmente se reconectar com a figura do pontífice. O resultado foi um aumento expressivo no consumo de filmes com temática religiosa, especialmente aqueles voltados à figura do papado.
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Um dos títulos que mais chamou atenção foi Conclave, drama dirigido por Edward Berger e lançado em 2024. O filme retrata os bastidores de uma eleição papal fictícia e, segundo a plataforma de dados Luminate, viu suas visualizações saltarem 283% no dia seguinte à morte de Francisco, atingindo 6,9 milhões de minutos assistidos. A obra, estrelada por Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini, foi aclamada pela crítica e venceu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
Mas, entre os filmes revisitados, Dois Papas ganhou um lugar especial no coração dos espectadores — especialmente por sua conexão direta com a história recente da Igreja Católica. Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e lançado em 2019, o longa dramatiza os encontros entre o então Papa Bento XVI e o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, futuro Papa Francisco, antes da histórica renúncia de Bento. O filme é uma reflexão sensível e profunda sobre fé, perdão e transformação, amparada por atuações marcantes de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, ambos indicados ao Oscar.

Dois Papas foi redescoberto por uma nova geração de espectadores que, diante da morte de Francisco, buscou entender, além de seu legado, o contexto que o levou ao trono de São Pedro. A volta do filme ao topo das listas de mais assistidos na Netflix é um reflexo da relevância do debate que ele propõe — sobre o papel da Igreja no século XXI, sobre conservadorismo e progresso, sobre escuta, divergência e reconciliação.
Fernando Meirelles, ao comentar o sucesso contínuo da obra, afirmou em entrevistas que “o filme não é sobre religião, é sobre diálogo”. A frase sintetiza bem o espírito da produção, que foge de polêmicas dogmáticas para focar no aspecto humano das lideranças da Igreja. “Saber escutar o outro e conviver com quem discordamos são mercadorias em falta”, declarou o cineasta, cuja carreira inclui sucessos como Cidade de Deus.
Além de Dois Papas e Conclave, outras produções também viram aumento de interesse nos últimos dias, incluindo documentários e séries sobre a vida e o pontificado de Francisco. Essa movimentação demonstra que, em tempos de luto coletivo, o cinema segue sendo uma poderosa ferramenta de memória, reflexão e aproximação com figuras públicas que marcaram época.
Mais do que números de audiência, o que se revela é o poder do audiovisual de capturar momentos históricos e recontextualizá-los, oferecendo ao público uma experiência emocional e, muitas vezes, esclarecedora. O Papa Francisco, que foi um líder carismático e frequentemente retratado na cultura pop, deixa um legado que vai além da teologia — e que, agora, encontra ecos na arte.
Fonte: Variety