Em João Pessoa, a valorização da moeda americana provocou a suspensão de pedidos e o adiamento de vendas de uma fábrica de esquadrias de alumínio.
A indústria já se movimenta e o comércio já percebeu que os preços devem sofrer o impacto da valorização da moeda americana no Brasil. Normalmente, fornecedores pleiteiam remarcações para o início dos anos, mas o que tem ocorrido não estava na agenda do comércio. A desvalorização do real já repercute em vários setores da economia como alimentos, bebidas, higiene e beleza, linhas de eletroeletrônicos e até na construção civil, o que deve resultar em uma nova onda de reajustes.
Com a nova alta recorde do dólar registrada nesta segunda-feira, 9, a estimativa é que a alta no ano ultrapasse os 20%, segundo a Economática. Ontem, a moeda americana atingiu R$ 6,0822. Até 25 de novembro, o acumulado era de 19,81%.
As negociações de tabelas avançam desde o fim do mês passado. Recentemente, fornecedores de eletrônicos e alimentos relataram que a variação cambial se soma a um ambiente que já vinha de valorização do dólar, não totalmente repassado ao mercado, em produtos com insumos importados. Para representantes do setor, novas tabelas de preço devem vir logo no início do ano, já que boa parte das encomendas de Natal já foi fechada.
Reflexos
Uma medida adotada por empresários tem sido a suspensão do recebimento de novos pedidos. Esse foi o caso do proprietário da empresa paraibana JR Indústria e Comércio de Vidros e Alumínio, Oldaque Mendes de Queiroz Jr, mais conhecido como Júnior. “Trabalhamos com compras feitas com um ano de antecedência e 60% do alumínio utilizado no Brasil são importados. Está difícil prever o que vai acontecer nos próximos meses”, afirma Júnior.
À alta da moeda americana soma-se a decisão do governo chinês, de onde vem boa parte do alumínio, de suspender incentivos de exportação para o Brasil. Com isso, Júnior recebeu apenas 30% dos insumos que havia encomendado. “Nos últimos 30 dias, tivemos um impacto de 15% no preço do alumínio e usei o estoque para atender os contratos fechados. Precisei buscar fornecedor em Curitiba, suspendi cerca de R$ 3,5 milhões em pedidos e adiei quase R$ 20 milhões em vendas”, contabiliza Júnior.
Também está em compasso de espera projeto para triplicar a capacidade de produção da indústria em 2025. “Hoje trabalhamos com galpões em locais diferentes e nosso projeto é unificar as plantas, aumentando a produção em até 3 vezes e ampliando nosso quadro de funcionários dos atuais 150 para 250. O terreno está comprado e o projeto arquitetônico em andamento. Vou deixar tudo pronto para 2025, mas hoje não me sinto seguro para tirá-lo do papel”, avalia.
Projeção
Diante deste cenário de insegurança e de olho na reunião de política monetária da próxima quarta-feira, 11, os economistas e analistas do mercado financeiro elevaram as suas projeções para a Selic, dólar e câmbio. Para a última reunião de 2024, a aposta é em uma elevação de 0,75 ponto percentual, enquanto a Selic para 2025 passou de 12,63% para 13,50%. Há 4 semanas, a projeção era de 11,50%. O câmbio também mostrou depreciação nas estimativas. Atualmente na faixa dos R$ 6, o mercado precifica a moeda americana em R$ 5,95 em 2024 e em R$ 5,77 em 2025.