
Um padrão climático de deve se formar ainda este ano. Segundo especialistas em clima, há uma chance de 70% de que o fenômeno ocorra entre agosto e outubro e se estenda até o fim do inverno no Hemisfério Norte (ou seja, até meados de março de 2025).
Mas o que, na prática, isso significa? Durante a La Niña, o Oceano Pacífico na zona tropical fica mais frio do que a média o que cria uma série de efeitos em cascata, desde chuvas mais fortes na Ásia até condições mais secas em partes da América do Sul.
A expectativa é que o fenômeno traga algum alívio para produtores agrícolas após anos de estragos em algumas regiões, como no caso de secas devastadoras na África e das enchentes históricas no Rio Grande do Sul.
— Há uma relação muito forte entre El Niño e safras mais fracas e entre La Niña e safras fortes —afirma Jonathan Parkman, chefe de vendas agrícolas na corretora de commodities Marex. — Não é incomum em anos de transição de El Niño para La Niña haver grandes recuperações (no setor agrícola).
Veja, abaixo, o possível impacto nas principais lavouras, considerando o cenário traçado pelos especialistas. Spoiler: a produção de cacau deve subir e, com isso, o preço do chocolate poderá finalmente cair.
Cacau
O déficit entre oferta e demanda no mercado mundial de cacau atualmente é o pior já registrado, depois que um misto de seca brutal e chuva irregular atingiu grandes produtores na África Ocidental. A La Niña pode ajudar.
Se a La Niña chegar em agosto ou setembro, o aumento das chuvas ajudaria as lavouras africanas antes da colheita, disse Cade Groman, meteorologista do Commodity Weather Group. Os mercados já estão precificando a expectativa de uma colheita melhor, com as cotações do cacau no mercado futuro em Nova York negociadas cerca de 40% abaixo do recorde de abril.
Com alta do preço global:
A Marex espera que o mercado global de cacau saia de três anos consecutivos de déficit para um excedente de oferta na próxima safra.
Nem todos sairiam ganhando. A La Niña traz riscos de seca para partes do Equador, o terceiro maior produtor de cacau. Mas o país tem melhor acesso a irrigação do que a África Ocidental, o que pode limitar o impacto, disse James Quiroz, agrônomo do instituto de pesquisa INIAP do país.
Café
A La Niña pode atrasar chuvas cruciais no Brasil, ameaçando a produção da variedade arábica. Isso pode elevar ainda mais o preço da commodity, que recentemente atingiu o maior nível em mais de dois anos.
Do outro lado do mundo, a La Niña normalmente traz mais chuvas para o Vietnã, o segundo maior produtor de café. A umidade seria um alívio bem-vindo para as plantações da variedade robusta atingidas pela seca.
A cotação do robusta, geralmente usado para café solúvel, disparou recentemente para o maior nível desde a década de 1970, devido às interrupções no fornecimento.
Mas assim como no caso do cacau, tudo depende do momento. Se a La Niña chegar tarde demais no Vietnã, as chuvas podem atrapalhar a colheita.
Açúcar
O Brasil já enfrenta tempo seco, o que reduziu o teor de açúcar nas plantações de cana da região Centro-Sul. A La Niña ameaça piorar a situação, ao atrasar chuvas cruciais que normalmente ocorrem em setembro e no início de outubro, disse o meteorologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima.
A redução das chuvas na América do Sul devido à La Niña pode atrasar o plantio e prejudicar ainda mais a produtividade para a próxima safra, disse Trish Madsen, da Green Pool Commodity Specialists.
Mas, na Índia, a La Niña pode ajudar com a produção, ao aumentar as chuvas de monções, disse Madsen.
Outras safras
Anos de La Niña podem trazer grandes mudanças no clima tanto no Brasil quanto nos EUA, os dois maiores produtores agrícolas mundiais.
Nos EUA, os anos de La Niña podem trazer seca e calor no inverno em alguns estados do sul e chuvas pesadas no noroeste do país. Também pode levar a uma temporada de furacões pior no sul. Partes do Cinturão do Milho podem enfrentar a seca. Em importantes regiões produtoras de soja, especialmente mais para o norte, o clima pode ficar mais frio e úmido do que o normal.
No Brasil, o clima mais seco e quente deve atingir a maioria das regiões produtoras de milho e soja no Centro-Oeste a partir de setembro, disse Leticia Pizzo, analista da corretora de commodities Czarnikow. Isso poderia ter “impactos significativos na produtividade”, avalia. Também pode haver chuvas abaixo da média na Argentina, embora a expectativa seja de impacto moderado.
Ao mesmo tempo, os volumes de chuva podem ser maiores nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
“No Brasil, todas as regiões são afetadas de maneiras diferentes, o que torna difícil prever o impacto e a intensidade com que cada estado será afetado”, escreveu Pizzo em um relatório.