A tecnologia só será para todos quando for compreendida por todos

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Foto: Reprodução / iStock
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A tecnologia ainda não é acessível a todos – mas pode ser. Nos últimos anos, testemunhamos uma revolução silenciosa acontecendo ao nosso redor. Inteligência artificial, transformação digital, novas formas de aprendizado e trabalho. Tudo isso parece promissor – e de fato é. Mas há um grande problema: para a maioria dos brasileiros, a tecnologia ainda não faz parte do dia a dia de forma natural.

Seria um erro pensar que isso acontece apenas por falta de infraestrutura ou conectividade. A verdade é que a tecnologia, muitas vezes, chega ao Brasil de cima para baixo, embalada em jargões técnicos, numa linguagem distante da realidade de quem mais precisa dela. Isso cria um abismo entre inovação e inclusão, fazendo com que muitas soluções incríveis permaneçam restritas a poucos.

E aqui faço um paralelo. Durante muito tempo, o sol foi visto como um desafio para o Nordeste brasileiro. O calor extremo e as secas tornavam a vida difícil e limitavam o crescimento. Mas, com a evolução da energia renovável, o sol se tornou um ativo valioso, uma fonte de desenvolvimento econômico e sustentável. Da mesma forma, a tecnologia – e, em especial, a inteligência artificial – pode ser um fator de transformação social, reduzindo desigualdades e criando oportunidades reais para milhões de brasileiros.

A solução para isso não está apenas em conectar mais pessoas à internet ou distribuir dispositivos. Precisamos traduzir a tecnologia para a linguagem da vida real, torná-la aplicável ao cotidiano das pessoas. Isso significa escutar a população para que a inovação nasça do diálogo, e não seja imposta. É essencial entender as dores reais das pessoas, o que elas precisam e como a tecnologia pode ser útil em suas vidas. As soluções não podem vir apenas das grandes empresas e centros de pesquisa. Elas devem ser desenvolvidas junto com as escolas, bairros, associações de moradores e lideranças locais.

Oficinas práticas e aplicáveis precisam ser criadas para ensinar inteligência artificial e transformação digital de forma acessível, sem um tom acadêmico que afasta em vez de incluir. Mostrar na prática como um aplicativo pode ajudar uma mãe a resolver um problema na escola do filho ou como um jovem pode acessar cursos que antes pareciam inatingíveis. Nada inspira mais do que ver alguém igual a nós conseguindo transformar sua vida com a tecnologia. Um comerciante que ampliou suas vendas online, um agricultor que melhorou sua produção com dados, um estudante da periferia que acessou uma bolsa de estudos porque aprendeu a usar uma ferramenta digital.

A inteligência artificial pode ser a chave para reduzir desigualdades no Brasil, mas para isso precisamos descomplicar o acesso a ela. O conhecimento tecnológico não pode ser um código indecifrável para a maioria da população. Ele precisa ser um instrumento de empoderamento e inclusão. O Nordeste transformou o sol, que antes era uma adversidade, em um ativo valioso. Podemos fazer o mesmo com a tecnologia. Mas isso só será possível se garantirmos que ela não seja privilégio de poucos, e sim um direito de todos.

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Ruy Dantas
Ruy Dantas é jornalista e publicitário, fundador do Ilha Tech, um hub de inovação que abriga três startups. Atualmente, atua como CEO da RD Innovation, uma consultoriaespecializada em inovação, e como presidente do Sin Group, uma holding de empresas que oferece soluções customizadas de publicidade e comunicação para diversos segmentos. Possui especialização em gestão, negócios e marketing, além de formação em conselhos pela Fundação Dom Cabral. Nos finais de semana, escreve neste espaço sobre economia criativa, inovação, sustentabilidade e negócios que geram impacto social.