Vivemos em um país privilegiado por ser o mais biodiverso do mundo. O Brasil abriga uma imensa variedade de espécies vegetais e animais, distribuídas em seis biomas. Cada um deles biomas possui características únicas e é lar de inúmeras espécies endêmicas – aquelas que são encontradas exclusivamente em um determinado local. A Caatinga, por exemplo, é um bioma exclusivamente brasileiro, e suas espécies endêmicas são verdadeiras joias da nossa flora e fauna. O endemismo é um lembrete da singularidade de nossa biodiversidade e do quão vital é nossa responsabilidade em protegê-la.
A questão que se impõe é: se nós não protegermos essa biodiversidade inestimável, quem o fará? A preservação vai além da criação de áreas protegidas. Precisamos repensar o planejamento urbano e incluir espécies nativas em nossas cidades. Aprovar projetos de paisagismo com critério e atenção. Pois quando se fala em planejar cidades, isso não pode se restringir às ruas, praças e parques, mas também os edifícios comerciais, residenciais e qualquer outro elemento incorporado à malha urbana pelo mercado imobiliário. A integração da biodiversidade ao contexto urbano é uma necessidade que não pode ser ignorada. Ela demanda uma abordagem que transcenda o cumprimento das regulamentações mínimas e que vise criar uma paisagem urbana que realmente reflita e respeite a riqueza natural do nosso país.
João Pessoa já foi tida como uma das cidades mais verdes do mundo pelos seus habitantes. No entanto, em muitos locais, a realidade está longe do discurso. Ampliações viárias tiram o espaço que outrora era de árvores, como em obras recentes da Av. Sen. Ruy Carneiro. Há áreas da cidade onde o Plano Diretor exige 5% da superfície permeável, o que é insuficiente para manter um equilíbrio ecológico. E mesmo essa porcentagem mínima frequentemente inclui apenas pisos drenantes e gramados, que não oferecem a mesma qualidade ambiental de áreas verdes ricas em biodiversidade.
Nos últimos anos, temos visto uma preferência crescente pelo paisagismo tropical. No entanto, há um equívoco comum: nem todas as espécies tropicais são nativas. Muitas plantas que vemos nos jardins urbanos vêm de regiões como Ásia, África e Oceania. Apesar de serem belas e apresentarem um desenvolvimento extraordinário, não fazem parte dos nossos ecossistemas naturais e não fornecem os mesmos benefícios ecológicos que as espécies locais.
Valorizar o que é raro é, na verdade, valorizar o que é essencial para a vida. As espécies nativas são verdadeiras joias criadas para desempenhar papéis cruciais na manutenção da vida, seja em termos de embelezamento, regulação do clima, ou provisão de alimentos e abrigo para uma infinidade de seres vivos, incluindo nós, humanos. A biodiversidade é um recurso que não pode ser negligenciado. Portanto, é necessário um esforço conjunto para conscientizar, educar e inspirar a adoção de práticas de paisagismo e planejamento urbano sustentáveis, que favoreçam as espécies nativas e protejam nossos ecossistemas, garantindo que esse legado natural prospere para as futuras gerações.