A ficção no turismo em João Pessoa

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Eu tenho uma amiga que, ao invés de chamar alguém de mentirosa, diz que ela está ficcionando. Nunca vi uma maneira tão educada e, até mesmo poética, para definir uma mentira. Inspirada nesta definição dela, que é escritora – e das boas, percebi que o turismo vive muito de ficção. E João Pessoa, a bola da vez, não escapou.

Faz um certo tempo que alguns ficcionistas trabalham arduamente para divulgar o que não é verdade. Talvez a intenção seja até boa, ou é falta de conhecimento mesmo, ou até as duas coisas: fato é que todo mundo diz e até comunicadores da terra repetem algumas afirmações que são pura ficção.

“João Pessoa é a terceira cidade mais antiga do Brasil”. É se acrescentar que é a terceira cidade mais antiga do Brasil que já nasceu cidade e não foi vila.

“João Dantas matou João Pessoa porque a União publicou as cartas íntimas de Anayde Beiriz” O jornal A União nunca publicou cartas de Anayde Beiriz e, sim, do pai de João Dantas escritas para ele e encontradas durante a invasão na casa do advogado.

“João Pessoa é a segunda cidade mais verde do planeta, depois de Paris”. Não é e não existe nada que ateste isso. Durante a Eco 92 uma campanha criada por um marqueteiro local fez essa afirmação e viralizou porque saiu publicada numa revista de circulação nacional.

“João Pessoa é a cidade mais procurada no mundo pelos turistas”. Ficção, de novo. A cidade foi a mais procurada no perfil Time Out Travel, no Instagram. Neste perfil João Pessoa ficou no primeiro lugar nas buscas por informações seguida de Tromso, na Noruega e Sanya, na China. A cidade está sim, entre as mais procuradas no Brasil, e estamos, quase todos, vibrando com a chegada de tantos turistas.

Quem gosta muito de ficcionar também são os guias de turismo, acredito que para dar aquela valorizada no destino. Criam estórias incríveis. Mas eu acho que não há necessidade da ficção no turismo. Aqui na Paraíba e em João Pessoa a nossa realidade, nossas belezas e nossa história são grandes produtos – se contados corretamente. Não há nenhuma necessidade de ficcionar.

Minha sugestão é que os gestores trabalhem para que João Pessoa se torne a cidade menos violenta do Brasil, a cidade que não tem esgotos clandestinos, a cidade que mais preserva o seu verde, a cidade que é modelo no trânsito, a cidade que dá acesso a uma qualidade de vida excepcional para todos. Para os que nos visitam e os que moram aqui. Tudo checado e comprovado.     

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Rosa Aguiar
Rosa Aguiar é jornalista com graduação em Comunicação Social pela UFPB, especialização em Redação Jornalística pela Universidade Potiguar e Mestrado em Jornalismo Profissional pela UFPB.